A comunicação exerce força, poder e magnetização nas inter-relações, já que nos inspira, nos anima, nos distrai, nos entristece e nos resplandece. O verbo comunicar reflete a ação que está ligada às diversas emoções, respostas e desejos. O querer deixar ir, vir, encontrar e perpetuar aqueles que vêm e vão, e de unir e afastar aquilo que nos convém.
O comunicado definido é transmitido das mais diversas facetas, sendo com palavras, gestos, olhares, sons, estas diversidades nos fazem perseguir o que nos encanta, ou o que buscamos entender.
O filme – Relatos do Mundo – destaca o poder da comunicação tanto para a subsistência do veterano de guerra, Capitão Kidd, que viaja para diversas cidades lendo as notícias para os locais, quanto na construção da amizade entre ele e a Johanna – uma garotinha órfã.
Além do significado mais batido da palavra órfã – quem perde os pais ou um deles, seja a definição mais ligeira que vem a nossa mente, com o passar da história o seu sentido fica cada vez mais amplo, pois há muitos órfãos que não passam despercebidos.
Apesar de suas dores serem originadas por diferentes atores, estão à mercê da linha tênue entre a sobrevivência e a crença, como o capitão Kidd, que perdeu sua esposa, o rapaz que perdeu a vida, os originais (indígenas) que perderam a mãe terra e vagam amparados pelo pai – o sol, aqueles que perderam o rumo, a esperança, e até mesmo a própria estima.
Apesar da busca pela família de Johanna ser uma meta, um caminho retilíneo e sem volta, uma espiral de reencontros e descobertas a contorna, demonstrando o que ela e seu povo tanto estimam: o ciclo, tudo e todos.
Um abraço destemido da vida que a envolve inevitavelmente, como ela pontua, que para seguirmos, temos que entender o que se passou, assim é possível completar o ciclo dos questionamentos e partir para a interseção que mais nos aproxima da nova roda da fortuna.
Embora a comunicação entre o capitão e a menina seja de certa forma restrita por causa da barreira do idioma, há entendimento e sentimento de partilha, vontade de pertencimento e busca; demonstrando mais uma vez que há várias maneiras de se fazer entender e de ser entendido.
Mesmo que as histórias contadas não tenham sido compreendidas por ela por causa da língua, as emoções lançadas a cada leitura traduziam parte do escrito, havia uma troca de sorrisos, olhares que refletiam da audiência para a menina, que mesmo sendo considerada órfã, encontrou o seu novo lar estruturado em histórias, não sendo mais o físico, mas o seu próprio interior.
Assim, ela se comunicou e reconheceu a sua nova morada baseada nos contos, em uma nova figura familiar, nas letras e em um novo porto seguro, seu amigo – capitão Kidd, que juntos se reconheceram como uma nova família.
Assim, como as palavras, os sons, os gestos transmitidos dependem do contexto para sua real interpretação, aquilo que julgamos como família, e ser ou não órfão depende de como enxergamos e enfrentamos a vida. Faça a sua devida interpretação e análise da vida, já que seu entendimento é muito subjetivo.
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