Hoje, escrevi para você e recordei nossa infância,
adolescência e vida adulta.
Recordei as vezes que menti para meus pais para te
encontrar, as vezes que tomamos vinho escondido
dos meus e dos seus pais.
Recordei as manhãs em que você batia na minha
porta de madrugada, as 5:30h para ver se eu estava
bem, pois tivera um pesadelo comigo.
Lembro a cara da minha mãe, menina louca, isso é
hora de bater na porta dos outros?
O início da vida adulta, casamentos, filhos e, não
importava a distância, você estava sempre presente
de alguma forma.
As cartas ainda guardadas que demonstram essa
presença e carinho.
A vida adulta cobrou e já não podemos estar
presente todos os dias, seguimos nosso destino,
nossa história e, mesmo assim, você continua
presente de alguma forma.
Recordei que, há dois anos, realizei um sonho e
você foi a primeira pessoa para quem enviei
mensagem, do outro lado do oceano, no país irmão,
minha irmã de coração.
Recordei-me também da sua ligação, em um
domingo à tarde:
— Bebê comigo?
Ri e respondi:
— Claro!
Em uma chamada de vídeo, eu bebi aqui e você aí,
enquanto me contava um problema e, no final,
depois da franqueza da amizade, você percebeu não
ser exatamente um problema e hoje divido com
você essa alegria.
Sei como é difícil estar longe do lugar que
crescemos, sei como é difícil não estar presente em
momentos ruins e também nos alegres daqueles que
ficaram na terra natal.
Mas, o que posso dizer é que os anos passaram, a
vida mudou tanto das cartas até a chamada de
vídeo, bebendo uma cerveja à distância, em um
domingo à tarde, nós acompanhamos essa mudança
e a usamos em nosso favor, em favor da amizade
que surgiu de uma menina intrometida na janela da
minha casa e que dura até os dias de hoje.