Depois de certa idade você começa a entender que tudo na vida é passageiro, fugaz, demasiadamente breve. Hoje, existe; amanhã, quem sabe? Esta é uma das grandes chatices da vida, nada é pra sempre; pra sempre, como poetizou Renato Russo, sempre acaba…
Eu já vivi a ilusão de que algumas coisas na existência eram pra sempre. Ah, como isso me fazia bem… Mas não era real… Hoje penso que, às vezes, é melhor acreditar numa boa ilusão do que ter de encarar uma dura realidade. Pena que meu pragmatismo não me permita viver com tal regalia.
Houve um dia em que eu pensei que seria jovem para sempre, mesmo que meu corpo viesse a sofrer os desgastes próprios do tempo. Hoje, percebi que o envelhecimento não tem nada a ver com a degeneração do físico, mas com a perda da inocência, da irreverência, da capacidade de sonhar sonhos impossíveis.
Houve um tempo em que eu pensei que os amigos seriam amigos para sempre. Ao depois, entretanto, percebi que as amizades acabam por tornarem-se circunstanciais, algumas, inclusive, são meramente calcadas em interesses, outras, desfazem-se quando mudamos de endereço, de telefone, de empresa, de igreja… Constatei que minhas amizades, quais pedras de barro, foram se esfarelando até tornarem-se apenas poeira que cobre os meus pés exaustos de tanto chão.
Houve um tempo em que eu pensei que a paixão seria para sempre. Mas paixão é “bicho” indolente, foi feita pra voar, não para viver presa, por isso não é possível aprisioná-la na “gaiola” do coração humano. A paixão é como foguete, quando despertada, rasga o céu com exuberância e desenvoltura, depois, todavia, desvanece, silencia, some na escuridão da noite do ser.
Houve um tempo em que eu “vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Mas aí eu cresci, senti a necessidade de ser gente, quis ser reconhecido, singular, irrepetitível. Ser gente é mais do que simplesmente ser homem, pois homens não duram pra sempre. Aos poucos, entretanto, percebi que meus sentimentos se complexificaram, que minha alma tornara-se “sofisticada”, que minha consciência, momentaneamente iludida, imaginara ter evoluído a tal ponto de prescindir do meu coração. Sendo gente, pensei, jamais serei esquecido, ignorei o fato de que tudo na existência ruma para o irremediável, sucumbe em silêncio e solidão.
Houve um tempo em que eu sentia estas coisas… Tudo isto invadia minha alma como raios de sol que rasgam as frestas da velha janela, até que atentei para o fato de que o único absoluto da vida é Deus, tudo o mais, sendo relativo, é passageiro e finito. Deus colocou a eternidade como pulsação interior no coração do homem, mas este, não compreendendo as dimensões e implicações deste estado pós-matéria, tenta tornar eterno aquilo que é apenas temporal.
De fato, pra sempre, sempre acaba, pois, no final desta estrada na qual todos nós estamos caminhando, existe uma grande placa onde estão presentes os seguintes dizeres: “Fim da Linha! Bem vindo à eternidade!”. Nesta nova dimensão pós-existencial, pra sempre é pra sempre mesmo, pois Deus assim o diz, e Sua Palavra, para mim, é mais do que suficiente para me fazer crer. E para você?…