“Deixei vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino do céu.”
Não pretendo falar aqui de religião, mas aprendi o significado dessa frase em uma manhã de quarta-feira.
Era um dia normal, mas a lição que aprendi naquele dia me marcou para sempre.
Ouvi muitas vezes que as crianças são maldosas, ouvi frases cruéis e preconceituosas ditas por crianças e algumas vezes cheguei até a pensar que sim, elas são cruéis quando querem.
Aos poucos fui percebendo que não é verdade, as crianças tem em si a inocência do amor, elas são honestas, são empáticas, são carinhosas, mas de acordo com sua realidade, com o que ouvem dos adultos e da sociedade vão moldando em si a maldade humana e por vezes se tornam racistas, machistas e preconceituosas, mas não nasceram assim, ninguém nasce assim.
Naquela quarta, tudo o que tinha para dar errado deu, e eu que tinha como obrigação materna a responsabilidade de comparecer à reunião de pais não consegui.
Mesmo assim, fui até a escola, assinar os boletins e me desculpar por não comparecer.
A reunião havia terminado, grande parte dos alunos ainda estavam na escola, haviam dividido a reunião por série.
Assim que entrei, o pedagogo me pediu para aguardar, tinha três pais na minha frente. Decidi então dar uma volta na escola a procura do meu filho.
O encontrei na quadra, com um grupo de alunos, jogando basquete, entre eles um garoto cadeirante.
Os meninos todos com idade média de 10 a 12 anos passavam a bola um para outro normalmente, quando a bola tomava a direção do cadeirante os colegas empurravam a cadeira a toda velocidade e o garoto apanhava a bola.
Fiquei observando a sincronia dos meninos que faziam parte do time, aquele que tivesse mais perto empurrava a cadeira, ninguém precisava dizer nada, não houve um momento que o garoto fosse deixado para trás, ele simplesmente era parte natural da equipe, parecia uma jogada ensaiada por anos tamanha a facilidade e naturalidade entre eles.
Fiquei encantada!
Mais tarde, ainda com aquela belíssima imagem na mente, comentei com meu filho.
— Aquele menino estuda com você?
— Qual deles? Ele respondeu, inocente.
— O cadeirante.
— Ah, sim.
Uma resposta curtíssima, eu havia visto algo diferente, encantador entre as crianças, para ele nada tinha de diferente. Continuei:
— Ele foi estudar com você esse ano?
— Não, acho que estudamos juntos desde o primeiro ano.
— E você nunca me falou dele.
— Falar o quê?
— Verdade, achei interessante vocês empurrando a cadeira dele para que possa jogar.
Meu filho me olhou sem entender o interrogatório e disse:
— O que tem de interessante, é normal , ele gosta de jogar com a gente.
Me recolhi tamanha insensatez da minha parte, ele tinha razão, o que tinha de diferente? Por que falar que estudava com um cadeirante e entendi que a faculdade deles em fazer com que o menino participasse do jogo, em empurrar a cadeira para o menino jogar a bola, ao invés deles buscarem a cesta, era a empatia e bondade de uma criança, com sua riqueza interior.
Entendi a importância da educação e passei a questionar minhas atitudes.
O que há de diferente em ser diferente?
Somos todos diferentes e isso é lindo!