O prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Victor Coelho, sente na pele o drama vivido por boa parte dos moradores e comerciantes da cidade, que perderam tudo com a maior enchente da história do município.
Ele é uma das mais de 1,1 mil pessoas que precisaram sair de suas casas em função da inundação. Na cidade são 927 desalojados e 247 desabrigados.
Sua casa, situada no bairro Baiminas, também foi invadida pela água, que chegou a 1,5 metro de altura, destruindo vários bens. Atualmente ele, assim como sua família, está ficando na casa de sua mãe, no segundo andar do prédio.
Nesta quarta-feira (29), o prefeito publicou artigo em que desabafou sobre a situação enfrentada. Desde as primeiras horas da enchente, o chefe do Executivo percorre ruas da cidade e participa de reuniões de trabalho para limpar ruas e minimizar perdas.
“Cenário de pós-guerra. Às vezes, uma tragédia nos ensina várias lições. A ficha ainda não caiu. Para mim e para muitas outras pessoas que tiveram perdas”, disse, no artigo.
Ele completa: “Sim, tive perdas. Pessoais e como cidadão. As perdas pessoais a gente trabalha pra recuperar. Noites de sono seguidas sem dormir, a gente descansa depois. O banho gelado de caneca por conta da falta de água momentânea vai ficar na memória. Aliás, várias lembranças que não vão sair mais da nossa memória”.
Por fim, Victor faz uma constatação: “Sou apenas mais um na estatística dos desalojados…”.
Apesar dos prejuízos pessoais, o prefeito afirma em seu artigo que se emociona com a destruição por toda a cidade.
“As perdas como cidadão são as que mais machucam. Como não chorar ao ver a marca da água na Casa dos Braga e no Centro Operário? Como não chorar ao ver os livros da biblioteca do Guimarães Rosa jogados no lixo? Como não chorar ao ver o piano do Teatro Municipal coberto de lama? Como impedir a lágrima de descer ao ver sua cidade destruída? Alma em frangalhos…”, disse.
Abaixo o artigo completo
“Cenário de pós-guerra. Às vezes, uma tragédia nos ensina várias lições. A ficha ainda não caiu. Para mim e para muitas outras pessoas que tiveram perdas.
Sim, tive perdas. Pessoais e como cidadão. As perdas pessoais a gente trabalha pra recuperar. Noites de sono seguidas sem dormir, a gente descansa depois. O banho gelado de caneca por conta da falta de água momentânea vai ficar na memória. Aliás, várias lembranças que não vão sair mais da nossa memória. Sou apenas mais um na estatística dos desalojados…
As perdas como cidadão são as que mais machucam. Como não chorar ao ver a marca da água na Casa dos Braga e no Centro Operário? Como não chorar ao ver os livros da biblioteca do Guimarães Rosa jogados no lixo? Como não chorar ao ver o piano do Teatro Municipal coberto de lama? Como impedir a lágrima de descer ao ver sua cidade destruída? Alma em frangalhos….
Mas no meio do caos ergue-se a esperança! Caminhando pelo centro da cidade percebi no olhar das pessoas um brilho diferente. Sentimento de companheirismo! Não faltou uma mão voluntária desconhecida para ajudar na limpeza. Não faltou um copo d’água no momento de sede. Não faltou um abraço quando bateu o cansaço. Não faltou solidariedade…
É nessas horas que a gente conhece o verdadeiro caráter das pessoas. É nessas horas que o cachoeirense passa a olhar sua cidade com o olhar apaixonado de Rubem, de Deusdedit. É nessas horas que eu tenho certeza que aqui é o meu lugar e eu não troco por nenhum lugar do mundo!
Te amo, Cachoeiro!”