O município de Cachoeiro de Itapemirim sediou, na quinta-feira (30), uma reunião da Frente Parlamentar dos Direitos das Pessoas com Transtornos Neurobiológicos,.
A comissão discutiu os desafios e avanços da inclusão escolar para famílias atípicas da região.
O encontro, conduzido pelo deputado Allan Ferreira (Podemos), reuniu especialistas e representantes das redes pública e privada de ensino.
Um dos temas centrais do debate foi o Decreto Presidencial 12.686/2025, que institui a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva.
A gestora escolar da rede pública municipal, Simone Damasceno, afirmou que o decreto tem gerado interpretações equivocadas e que, em sua avaliação, ele é “redundante”, por repetir diretrizes já previstas na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015).
“Há muito alarde em torno do decreto, mas ele não representa ameaça ao trabalho desenvolvido por entidades como a Pestalozzi e a Apae”, afirmou.
Simone ressaltou que o município cumpre a legislação de inclusão, mas destacou dificuldades enfrentadas por professores, como a falta de tempo para o planejamento das aulas e o apoio limitado de cuidadores.
“Nós temos que parar de muito ‘mimimi’ e falar do que precisa ser melhorado na educação, até atingir a criança e o pai. A família espera muito do professor, e o professor não sabe o que fazer, porque as salas são cheias”, desabafou.
Ela também defendeu a importância das entidades parceiras, lembrando que o poder público não pode negligenciar o papel da Apae.
“Se eu não estou dando conta de atender toda a escola, outra pessoa precisa melhorar o apoio. Só a sala de recurso não dá conta”.
Apaes defendem papel complementar na inclusão
Representando o movimento das Apaes, a pedagoga Brunella Soares reforçou que o decreto não implica o fechamento das instituições.
“É preciso combater as desinformações em torno do decreto, porque ele não vai fechar as Apaes”, destacou.
Brunella fez um resgate histórico do movimento e explicou que o modelo capixaba é referência nacional.
“O nosso estado foi o primeiro, em 2008, a trazer a inclusão. Há 17 anos fazemos inclusão escolar. No Brasil, muitas Apaes ainda têm escolas especiais, mas no Espírito Santo as entidades são credenciadas com a Secretaria de Educação e o Conselho Estadual.”
Especialistas discutem TDAH e autismo
Os desafios da inclusão para pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA) também foram discutidos.
A psicopedagoga clínica Priscila Sossai lembrou que o TDAH é um dos transtornos mais estudados e ainda cercado de desinformação.
“A gente não pode pensar que isso virou moda ou confundir um transtorno do desenvolvimento com falta de limite em casa”, afirmou.
“Quando a gente fala sobre neurodiversidade, o termo veio para valorizar as diferentes formas de pensar.”
Priscila destacou que inclusão não é apenas colocar a criança na sala de aula, e defendeu medidas práticas como protocolos de acolhimento, salas sensoriais e flexibilização de avaliações.
“O que mais prejudica uma pessoa com TDAH é a falta de foco, de organização e o controle da impulsividade. E isso não é preguiça.”
A psicóloga Ingrid Taliuli, por sua vez, enfatizou as dificuldades enfrentadas por crianças com TEA e suas famílias.
“A família quer apenas garantir o direito à escola, mas muitas vezes sem saber se a criança está sendo valorizada e respeitada”, afirmou.
Segundo Ingrid, os principais desafios são o preparo das equipes escolares e a falta de profissionais especializados.
“Na teoria, a inclusão é linda, mas a prática não funciona assim. Temos turmas com 30 alunos, sendo quatro com necessidades especiais, e poucos profissionais preparados.”
Ela também destacou a importância de acolher as famílias.
“Inclusão não é só para as crianças, é para os pais também. Precisamos entender a dor dessa mãe, porque tudo o que é novo assusta — e todos estamos aprendendo juntos.”
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