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O Navio Utíle. Imagem divulgação

Rumo ao Inexplicável: Os Enjeitados da Ilha de Tromelin

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Marcio do Nascimento Santana
A Ilha de Areia, mais tarde batizada como Ilha de Tromelin

O Naufrágio

Era noite de 31 de julho de 1761 quando um navio chamado Utíle, capitaneado por Jean de La Fargue, pertencente a Companhia Francesa das Índias Orientais, encalhou após enfrentar uma terrível tempestade, em uma pequena e plana ilha a exatamente 450 km a leste de Madagascar, ou seja, em pleno Oceano Índico, onde ficou preso e todo danificado sem condições de navegar novamente. Essa embarcação transportava em seu porão cerca de 160 escravos, entre homens, mulheres e crianças que seriam vendidos nas ilhas Maurícias aos donos de plantações de cana-de-açúcar.

O navio ainda contava com 143 homens que compunham a sua tripulação, e desses 21 morreram afogados e apenas 88 escravos sobreviveram após o violento impacto nas rochas, uma vez que se encontravam no convés superior, já que os demais estavam presos no convés inferior, completamente encarcerados e acorrentados. Um verdadeiro infortúnio.

O Providence

As casas dos náufragos. Imagem divulgação.

Após esse evento o capitão logo começou a fazer gestão dos danos e assim juntamente com seus marinheiros ele resgatou água potável, comida, ferramentas e muita madeira dos destroços do navio moribundo com objetivo de construir um novo barco. Os habilidosos marujos cavaram um poço de 5 metros de profundidade e fizeram uma fornalha para forjar pregos e outros utensílios de metais, e assim começaram a dar forma a embarcação que os salvaria. Em dois meses o barco improvisado chamado Providence nasce dos restos do Utíle e em 27 de setembro de 1761, apenas os 122 marinheiros (todos brancos)  franceses sobreviventes partiram para Madagascar, jurando aos escravos que ficaram na Ilha, que enviariam um navio para resgatá-los.

Animais Abandonados?

Ao chegarem em terra firme, o capitão e sua tripulação informaram o Governador Antoine-Marie Desforges-Boucher sobre o terrível naufrágio, que ficou furioso e se recusou a enviar um barco para resgatar os escravos deixados na ilha. Documentos da época apontam que o Governador se referiu aos escravos como animais e que “não valia o gasto para ir salvá-los”. O Governador coincidentemente também era um funcionário da mesma Companhia Francesa das Índias Orientais e alegou que não iria arriscar perder outro navio para resgatar um grupo de escravos descartáveis. Vários dignitários locais tentaram persuadir o Governador a mudar de ideia, mas sem sucesso. Os enjeitados ficariam a própria sorte.

A Ilha de Areia

A ilha do naufrágio é um ambiente hostil, pois possui solo arenosos que nunca permitiu uma efetiva ocupação humana, não possui florestas ou qualquer outro tipo de vegetação de grande porte, e é inteiramente exposta ao sol, e sua altitude máxima é de 7 metros acima do nível do mar e com a demora do resgate, os escravos logo perceberam que estavam por conta própria, e começaram a se organizar para sobreviverem aquela situação inóspita, em um local de apenas 3 quilômetros de extensão e quase sem vida animal, exceto algumas aves e tartarugas marinhas e completamente sem água potável.

Os negros em sua maioria possuíam conhecimento mateiro e conseguiram ajudar os demais a resistir, coletando água potável das escassas chuvas que caiam sobre a ilha e se alimentando de ovos e da carne de pássaros, além da caça de tartarugas marinhas e também da prática de pesca primitiva. Construíram suas casas em buracos escavados no solo da ilha com blocos de corais e areia para se protegerem das intempéries, confeccionaram suas vestimentas das penas das aves e para cozinharem usavam uma espécie de forno coletivo. Uma verdadeira epopeia que impactou diretamente no emocional daqueles homens e mulheres que mesmo sendo rejeitados, não desistiram de lutar, mas essa luta, meu caro leitor, durou anos, ceifando a vida de um por um de uma forma lenta e torturante.

O Resgate e a Ilha de Tromelin

O episódio dos escravos abandonados incomodava os nobres abolicionistas europeus e após intensas pressões políticas na corte francesa, no dia 29 de novembro de 1776, praticamente 15 anos depois do naufrágio, finalmente os sobreviventes abandonados foram resgatados, porém, dos 88 escravos apenas 8 sobreviveram. Coube a corveta Dauphine, realizar essa extraordinária tarefa, que nesse dia estava sob o comando do capitão Jacques Marie Boudin de Tromelin de La Nuguy e em sua honra a ilha foi rebatizada. Os escravos foram alforriados e encaminhados para a Europa onde começaram vida nova.

Atualmente

Após esse fatídico episódio, a ilha foi anexada a França em 1814 e em 1954 foi feita uma pista de aterrissagem, não pavimentada, com 1050 m de comprimento por 35 m de largura, e os únicos habitantes humanos são os pesquisadores que dão apoio técnico a uma estação meteorológica construída juntamente com um farol. E atualmente ela se tornou uma reserva ambiental reconhecida pela BirdLife International, se consolidando como um verdadeiro santuário para a reprodução de aves e tartarugas marinhas. E claro a Ilha, atraiu muitos pesquisadores, por ainda guardar muitos segredos desde o fatídico dia do naufrágio do Utíle. Arqueólogos, conseguiram recuperar utensílio feito pelos escravos, documentaram as casas construídas, localizaram a âncora e vários objetos do navio e é claro conseguiram recuperar os canhões.

Mas a maior lição que tiramos dessa história é sobre o valor da vida humana. Uma reflexão poderosa, pois esse valor é imensurável e a sua importância é tamanha que não seria ético e viável qualquer quantificação. Os escravos de Tromelin foram pessoas extraordinárias que jamais desistiram de si mesmas, mesmo quando todas as nações europeias já os tinham como mortos. Se tornaram um exemplo de garra, tenacidade, superação e fé ao desafiarem e sobrevierem a força da mãe natureza e a fúria dos homens maus. No final sua perseverança fez toda diferença.

 

Marcio do Nascimento Santana. Historiador com formação em Arqueologia, Montanhista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim
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