Extensão de cílios, alongamento de unhas, depilação a laser. Lipo enzimática, skin care, dieta low carb. Guerra constante com a balança e aversão declarada ao espelho. Rotinas que permeiam o universo feminino de maneira imperativa, mas sutil, quase rastejante.

A cobrança social pelo embelezamento feminino é cruel e constante. O abuso compulsório cometido pelo patriarcado gerou a estrutura social da obrigatoriedade de “ser linda”. Impulsionando padrões e estereótipos quase inalcançáveis à mulheres comuns e rotineiras, como eu.

Financeiramente, a manutenção do padrão aceitável é distante da realidade econômica encontrada na grande maioria das mulheres do país. Emocionalmente, o preço cobrado por esse padrão é próximo à tortura.

Nesse contexto, a jornalista e escritora feminista estadunidense Naomi Wolf publicou, há pouco mais de 30 anos, o “Mito da Beleza“. O livro é um clássico usado como referência no entendimento da relação entre a beleza e a identidade feminina, e auxilia na compreensão do processo de doutrinação imposto pela indústria do eixo. Naomi versa sobre a emancipação da mulher, conquistada pelo empoderamento feminino e desmistificação do culto à juventude da mulher, que atua como mecanismo de controle social para evitar que sejam cumpridos os ideais feministas de emancipação intelectual, sexual e econômica conquistados a partir dos anos 1970.

Compreender a violência oculta que açoita constantemente nosso direito de escolha e denunciar os abusos são degraus de acesso à alforria do padrão. Nossos corpos são mais e são livres.