dom 20/julho/2025 16:00
Capa
Geral
Cachoeiro
Política
Oportunidade
Saúde
Educação
Economia
Agro
Segurança
Turismo
Esporte
DiaaDiaTV
Publ. Legal
Mundo Pet
Cultura

Só vai morrer velho

As correntezas de lama dão vazão àquilo que deveria ficar escondido: se a morte nos iguala é a vida que nos diferencia.

Só vai morrer velho. Aqueles cujas despesas superam sua capacidade produtiva. Aqueles cujas presenças já são, há muito, desencorajadas, desassistidas e ignoradas. Aqueles cujas raízes profundas, os sulcos talhados no rosto, e as palmas de suas mãos feitas da própria terra seca, são sua sentença. Aqueles que ocupam espaço enquanto a morte não vem. Aquele meio ambiente que, estando no meio do caminho, acabou encontrando seu fim.

Só há terra para o novo. Os que merecem hectares de espaço pessoal e privado devem celebrar a saúde em meio a doença, devem impor sua paz privatizada às custas da guerra em curso, devem confiar em seus corpos de atleta talhados pelo esforço do alpinismo social, pela técnica apurada da adulação de poderosos e pela incansável maratona em busca de encontrar sentido nas falas áridas de seus representantes políticos. Há terra para o novo rico. Para a nova soja. Para o novo sócio. Para o novo ódio.

Abrindo caminho cerrado a dentro, as correntes e os tratores rasgam clareiras que, feito as covas rasas que aparecem na televisão, também nos aguardam – a nós, os saudáveis. Nós, os eternamente jovens. Nós, que não temos absolutamente nada a ver com tudo. Arrastando a vida pelos cabelos, as correntezas de lama dão vazão àquilo que deveria ficar escondido: se a morte nos iguala é a vida que nos diferencia. É a vida que vale pouco quando não se tem o que vale muito. É a vida que vale nada quando é feita de brinquedo nas mãos dos que decidem por nós e que serão, sempre, contra nós.

Só vai morrer velho: o velho cerrado, o velho raizeiro, o velho ronco das cachoeiras, o velho pé de Canela de Ema, o velho rio, o velho pescador, o velho ribeirinho, o velho funcionário, o velho sem terra, o velho sem plano de saúde, o velho sem aposentadoria, o velho vizinho, o velho parente, o velho amigo, o velho respeito, o velho bom senso.

Mas e a velha política, os velhos acordos, o velho Brasil colônia, os velhos golpes, os velhos militares: e esses? Ah! Esses não morrem nunca! Porque, assim como o próprio tempo, esse é o tipo de velho que se alimenta da morte certa e conveniente. O velho que, como Caronte – o barqueiro do Inferno de Dante – carrega as almas em troca das poucas moedas que lhe são jogadas. As velhas moedas duras e geladas que, sobre os olhos dos mortos, estampam em suas duas faces: de um lado, a ganância e, do outro, a miséria. A velha miséria. Outra que, também e oportunamente, nunca é impelida a partir.

👉 Receba as notícias mais importantes do dia direto no seu WhatsApp!
Clique aqui para entrar no grupo agora mesmo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

festival-inverno-domingos-martins-14-bis-2025-

Festival de Inverno de Domingos Martins chega ao fim com show da Banda 14 Bis

frio-montanhas-capixabas

Fim de semana com mudanças no tempo e queda de temperatura

apreensao-drogas-guacui-cadela-alga-18-07-2025

Com ajuda da cadela Alga, PM encontra 106 pedras de crack em Guaçuí

monumento-natural-do-itabira

Prefeitura de Cachoeiro capacita conselhos ambientais

apreensao-drogas-simulacro-arma-alegre-18-07-2025

PM prende dois homens em Alegre: um por mandado, outro por tráfico

parque=natural-do-itabira

Prefeitura quer centro turístico próximo ao Monumento do Itabira

eca-crianca-microfone-na-mao

Projeto pretende preparar crianças para defenderem seus direitos

padaria-comunitaria-cachoeiro

Prefeitura de Cachoeiro reabre padaria comunitária com apoio do Rotary

Leia mais
plugins premium WordPress