Frases curtas. Poucos adjetivos. Advérbios, nem pensar. Esqueça as adversativas. Mantenha, junto ao coração, a lápide dos arcaísmos e, mais junto ainda, uma lista de neologismos (da semana). Não ofenda ninguém. NINGUÉM. Contemple as diversidades. Todas elas. Profundamente. Ao nível do âmago, sob pena de morte. Ou, pior, da indiferença.
Evite descrições. Quaisquer delas. O mundo é plano e raso, como um pires de porcelana branca e límpida. Capture a atenção no primeiro parágrafo. Antes da primeira linha. No título. Melhor, antes do título. Melhor ainda, na intenção do título. Capture-o e o aprisione, o mais rápido possível, antes que ele fuja. Que se perca para sempre. O leitor, ah! Essa entidade fugidia e fantasmagórica. O que pensa? O que sente? Do que se alimenta?
Enxergue o momento. Inspire o espírito do tempo e expire um mini conto. Um microconto. Um nano conto. Um con. Um c.
Não seja denso. Pelo amor de Deus, não seja denso. Não o canse, não o aborreça. Não o ultraje. Não o entedie. Faça-o sorrir. Por todos os santos mártires, faça-o sorrir! E se entreter. E se anestesiar. E se esquecer de quem ele é. Do que o mundo é. Esquecer-se da vida. Dos problemas. Das demandas. Das mazelas. (Jamais ouse digitar a palavra mazela).
Embale-o. Console-o. Abrace-o com palavras, como se abraça um bibelô frágil e belo. Um pequeno ser iluminado que nada pode ofuscar. Não nuble seus píncaros azulados. Não chova em sua tarde ensolarada. Não o azucrine com o escândalo das indagações.
Digite leve, bravo e indômito autor. Vossa Majestade, O Leitor, não pode ser incomodado.