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Um ovo de Páscoa para Cecília

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

Era uma vez uma linda menina de cabelos castanhos escuros e cacheados, olhos amendoados e que vivia como uma princesa, rodeada por familiares amorosos e conforto, numa bela casa em uma cidadezinha pacata do sul do Espírito Santo. Mas, em um dia cinzento, o céu chorou tanto que inundou a pequena cidade de Cecília, levando embora com as águas todo o mundo da pequena princesa e deixando apenas lama, lágrimas, morte e destruição.

Seu pai Ronaldo conseguiu recolher seus maiores tesouros: a mulher Amanda, a filha Cecília, sua gata Pepa e uma mochila com alguns documentos e coisas de seu trabalho. Cecília não estava entendendo nada, mas sabia, lá no fundo dos seus quatro anos, que algo não estava bem. Porém, como aprendera com seus pais que era filha de um Deus amoroso, sabia que Papai do Céu não iria desampará-los e, na sua simplicidade, unia as mãos em oração e pedia ajuda a Deus. Foram dias difíceis, com comida recebida de doação, pouca água e o medo avassalador do futuro.

No entanto, Cecília continuava firme e forte, sempre conversando com Papai do Céu. Numa noite, quando se preparavam para dormir no abrigo dividido com várias famílias, Amanda viu sua pequena conversando com um coleguinha, dizendo que tudo ficaria bem porque a Páscoa estava chegando e ela receberia um ovo de chocolate porque fora uma boa menina. O coração de Amanda se despedaçou, pois em meio ao caos em que estavam vivendo, sem comida, sem casa e sem esperança alguma, ainda teria que explicar para sua pequena que esse ano seria uma Páscoa diferente.

Na manhã seguinte, Ronaldo se sentou ao lado da filha e explicou que esse ano não haveria ovos de chocolate, mas que deviam ter gratidão porque estavam vivos e juntos, enquanto muitas famílias tinham perdido pessoas queridas. Cecília prestou atenção em cada palavra, mas para a surpresa do pai, não derramou nenhuma lágrima ao ouvir que não ganharia seu enorme ovo de chocolate. Ao invés disso, deu-lhe um forte abraço e disse o quanto o amava e que estava tudo bem.

Os dias foram passando e o medo e o cansaço aumentando. Todos os dias, recebiam o carinho em forma de água e comida, preparadas por desconhecidos das cidades vizinhas. Recebiam o afeto através das doações vindas de todas as partes. Então, na manhã de Páscoa, Ronaldo se sentou ao lado de sua filha e resolveu fazer uma oração, agradecendo por mesmo em meio a todas as dificuldades, ter sido abençoado por não ter perdido os seus familiares e estar bem para reconstruir sua vida. Pediu forças para ser amparo e não fraquejar na fé e na certeza de que tudo terminaria bem. Mas, antes de encerrar sua oração, Cecília disse: Papai do Céu e se der…que eu ganhe um chocolatezinho pequenininho também. Amém.

Os olhos de Ronaldo e Amanda encheram-se de água, pois sabiam que o desejo de sua filha não seria atendido. O pai, querendo esconder as lágrimas, foi até sua mochila para pegar as Escrituras e ler para sua família. Quando abriu o bolso grande, deparou-se com ele…. com o ovo meio quebrado que havia comprado para Cecília antes da tempestade e que havia esquecido de tirar da mochila. Não pôde acreditar, mas naquele momento fechou os olhos e fez uma oração silenciosa e, todo faceiro, entregou-o para Cecília que num forte abraço disse para o pai que sabia que Papai do Céu atenderia seu pedido. Pegou seu ovo e foi correndo até seu amiguinho e, para surpresa de seus pais, deu seu único ovo grande e quebrado para ele, acompanhado de um forte abraço.

Mais tarde, naquela noite, resolveram perguntar o porquê de ter dado seu ovo de Páscoa e ela, na sua inocência, respondeu:

-Papai, todos os anos vocês me dão ovos e meu amiguinho nunca tinha ganhado um.

Em meio a todo o caos, uma criança de quatro anos ensinou uma grande lição de amor, solidariedade e desapego. Fez com que aqueles jovens pais percebessem que sempre devemos seguir em frente e nunca fecharmos os olhos para a dor de nosso próximo e que o doar faz tudo ficar mais gostoso e mais leve. Afinal de contas, foi isso que Jesus Cristo fez: nos ensinou em vida a importância do compartilhar e do servir e em sua Expiação nos proporcionou a garantia de um dia podermos retornar a viver com Ele.

 

Mariana Elmira Lopes Bernardo da Silva. Mãe, mulher, artesã e escritora. Alguém que acredita que a união entre as mulheres salva o mundo

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