Todo bom conto de fadas começa com um era uma vez e termina com um foram felizes para sempre. Então, vamos manter a tradição e começar a contar uma bela história sobre uma menina encantada por livros e letras.

Era uma vez, em um reino não tão distante, uma bela menina com seus cachos negros e pele cor do ébano que vivia em uma casa simples rodeada de amor e muitos livros. Seu pai trabalhava como reciclador e sua mãe já havia partido para o outro lado do véu, em decorrência de uma pneumonia severa. Mas a menina, que se chamava Fátima, seguia seu caminho, dando o melhor de si e aprendendo valiosas lições com seu pai.

Seu Antônio, como bom reciclador que era, trazia para casa todos os tesouros que os nobres jogavam fora. Entre panelas, roupas e outras quinquilharias, os mais valiosos eram sempre os livros que eram fonte de diversão e conhecimento. Fátima adorava. Suas memórias mais queridas eram das noites em que seu pai lia para ela, antes de dormir, as histórias de fadas e dragões.

Porém, na noite em que Fátima completava 18 anos, tudo mudou. Foi decretada uma lei, proibindo a circulação de livros por todo o reino, pois eram considerados perigosos, já que possuíam o poder mágico de abrir mentes e levantar questionamentos. O rei que acabara de assumir o trono morria de medo das pessoas perguntarem o porquê disso ou daquilo. Seu Antônio tinha escondido, entre os trapos de sua carroça, uma caixa repleta de livros, mas foi parado em uma blitz, levado preso e condenado a ser banido da cidadela que considerava seu lar. Fátima, desesperada, foi ao encontro do pai e, juntos, vagaram por vários dias até encontrarem a Floresta Encantada das Letras, onde acharam abrigo e uniram-se aos Cavaleiros das Letras para lutarem contra esse monstro pavoroso que desejava acabar com os livros.

Foram anos de batalha, pois o medo do conhecimento e a divulgação de mentiras fizeram com que muitas pessoas fossem contaminadas e se escondessem atrás da escuridão da ignorância e das mentiras sempre baseadas naquilo que os donos do poder queriam. Mas, seu Antônio e Fátima jamais desistiram.

Depois de uma grande batalha, quando foram perdidos muitos Cavaleiros das Letras, Fátima caiu em um sono profundo e vagou por dias pelo reino de Morfeu, buscando conhecimento para voltar fortalecida e ajudar as pessoas que tanto amava. Quando acordou, convocou uma reunião com o grande Mestre. Seu Murilo, apesar de ser o líder da turma, sempre fora um homem simples e que adorava aprender mais e receber novas ideias.

O grande plano de Fátima era bem simples. Na Floresta, existiam muitas crianças e seu plano consistia em, desde cedo, ensiná-las o valor das letras e do conhecimento. Todas deveriam aprender a ler e a questionar para que pudessem se tornar fortes para, um dia, serem capazes de influenciar outras pessoas e levar adiante tudo aquilo que haviam aprendido. Seu Murilo amou a ideia e, com um sorriso singelo e lágrimas nos olhos, notou que em sua frente estava uma grande líder que entendia o quanto o poder de um livro é superior ao das armas, já que o primeiro constrói, enquanto o outro apenas destrói.

Foram anos de muitas leituras e escritas. Dia após dia, mais pessoas se juntavam aos estudos. Lá se aprendia matemática, ciências da natureza, ciências socias e muita literatura. Todos tinham voz e lendo livro após livro foram se tornando cada vez mais fortes e confiantes. O grande dia chegou e juntos invadiram a cidadela, ultrapassando os muros carregando seus livros com passos fortes e coração tranquilo. A surpresa dos guardas foi tanta que não tiveram argumento e nem ação e, um por um, foram se juntando ao grande exército libertador.

Naquele dia, não foi derramado sangue e nenhuma bala ou espada feriu alguém, pois o conhecimento liberta e transforma sem a necessidade de grilhões ou qualquer coisa que machuque ou prenda. O rei, por sua vez, entrou em desespero, mas Fátima foi ao seu encontro e descobriu que ele não era mau; apenas tinha medo do desconhecido, pois nunca tinha aprendido a ler. Ela, como boa professora que era, imediatamente assumiu o compromisso de ensiná-lo e aquele pobre homem caiu ao chão em lágrimas de gratidão.

O reino tornou-se livre e próspero, cheio de escolas e rodas de leitura por toda a parte. Todos compreenderam o quanto era importante lerem e questionarem de forma pacífica e, sobretudo, compartilharem o que aprendiam. Mesmo não tendo um príncipe encantado com um beijo de amor verdadeiro, Fátima encontrou o seu grand finale, pois todos no reino viveram felizes para sempre, ao lado dos grandes heróis que ora eram de capa dura, ora de folhas simples, mas todos cheios de páginas e letras.