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Deve um escritor se importar com seu leitor?

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Rafael Souza da Silva

A pergunta vale mais que uma resposta dicotômica, de um simples sim ou não. Além de ser uma resposta nada provocante, deixaria brechas e não contribuiria em nada para a questão em pauta.

Se alguém escreve é por querer ser lido, se eu escrevo o por querer que você esteja aqui fazendo isso. Se não fosse desejo de os escritores serem lidos e lembrados por suas obras, não teriam livros e nem seus nomes seriam assinados nos mesmos. A cultura estaria sendo passada de forma oral, de geração pós geração, e seus contribuidores pontuais não seriam lembrados ou citados.

Tendo em mente que ser lembrado e lido é um desejo de quem escreve, e quem o nega certamente mente, pois não o faria se não fosse o caso, podemos dar mais um passo. Deve o autor temer seu leitor e como será lembrado, se o for, por sua obra? O escritor, sem dúvidas, deve escrever de tal forma que sua mensagem seja a mais limpa possível. Permitindo que o receptor a leia e compreenda com clareza suas palavras. Levando sempre em consideração a complexidade do tema abordado, ora temas complexos exige textos mais complexos e leitores com bom repertório.

Mas, ciente de que sua mensagem dificilmente será interpretada de forma equivocada (digo dificilmente, porque nunca se deve desacreditar da burrice e do mau-caratismos de outrem) deve seguir sem medo de seu leitor. Mesmo que isso cause desagrados a seus receptores.

O Orwell diz que quando um escrito inglês de sua época dizia ter um pensamento “ousado”, na realidade ele teve um pensamento original. E por isso temia transforma-lo em texto escrito.

O medo da escrita e da verbalização das palavras costuma ser algo comum em períodos de governos totalitários, como na Alemanha de Hitler e Itália de Mussolini. A literatura em forma de poesia parece não ter sofrido tanto, ao menos, quando comparada a prosa, romance e textos jornalísticos. Os três últimos exigem dizer algo capaz de ser compreendido para além da interpretação pessoal e do sentimentalismo, não que a poesia se resuma isso, mas que pode se fazer uso dá armadura artística que seu gênero permite.

E de que serve um escritor que não se permite tal “ousadia” mesmo em um mundo sem autoritarismo como havia no século passado?

Prefiro ouvir o buzinar de carros, enquanto descanso de terno e gravata no verão em pleno sol do meio dia. Para mim, é mais agradável do que ouvir e ler covardes. Entre ler textos explosivos de mais uma ortodoxia política e social, prefiro ir ao manicômio e perguntar aos hospedes suas opiniões a respeito da notícia do momento. Entre insanidades e incoerências nas falas dos hospedes e dos ortodoxos, prefiro os primeiros que ao menos lhes sobrarão a sinceridade.

As obras mais antigas são sempre mais sinceras e humanamente próximas dos leitores. Com a economia de mercado e massificação da leitura, a sensibilidade pública teve que ser considerada. Mas entraremos em um dilema: escrever para humanos reais ou algoritmos mimados?

Seguindo esse comportamento de escrever para mimados com medo de ofendê-los ( e os idiotas são e devem serem cutucados pela ofensa intelectual), quem será digno dos novos clássicos?

Quem escreve deve se preocupar com a clareza da mensagem, mas não com sua recepção e deve fazer sem temer.

 

Rafael Souza da Silva. Estudante de licenciatura em ciências biológicas pela UFRPE, escritor da obra Apologia de Paulo Freire e morador da cidade de jaboatão – PE

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