O setor de alimentação fora do lar, os bares e restaurantes, têm dívidas acumuladas e são rondados pelo fantasma da inflação, o que traz grande preocupação ao setor.
É o que mostra o mais recente levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que consultou 1.689 empresários de todo o país.
O movimento de retomada está se consolidando, com 35% dos bares e restaurantes dizendo ter trabalhado com lucro em maio, contra 29% que realizaram prejuízo.
Outros 36% ficaram em equilíbrio. Os números ficaram estáveis em relação ao último levantamento, que trouxe o resultado de abril, quando 35% tiveram lucro e 28%, prejuízo.
Segundo Fabiano Ongaratto, presidente do SindBares, o setor está vivendo um período de recuperação, mas ainda não dá para comemorar.
O representante do SindBares diz que a pesquisa demonstra a realidade que é observada no setor de bares e restaurantes: mais da metade ou operou em prejuízo ou não teve lucro.
“Diante desse cenário, iniciativas como a ação movida pela Abrasel para que seus associados sejam contemplados no Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) são essenciais para a sustentabilidade do segmento que emprega mais de 40 mil no Espírito Santo”, comenta Ongaratto.
O levantamento aponta ainda que a inflação é o principal obstáculo para uma retomada mais rápida; 75% dos que tiveram prejuízo citaram o aumento dos principais insumos (alimentos e bebidas) como um fator que contribuiu para o resultado negativo.
Entre os outros principais fatores citados estão queda nas vendas (63%), redução no número de clientes (58%), dívidas com empréstimos bancários (54%) e dívidas com impostos (49%).
No geral, 45% dos que responderam ao levantamento dizem ter feito reajustes, mas abaixo da inflação oficial. Outros 29% não conseguiram reajustar o cardápio. 23% reajustaram somente para acompanhar a inflação e somente 3% dizem ter feito reajuste acima da inflação.
O presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, frisa que se for juntado quem não reajustou com quem fez reajustes abaixo da inflação, são 3 em cada 4 estabelecimentos (74%) que não conseguem repassar o aumento dos custos.
Solmucci diz que isso explica por que no setor a inflação dos últimos 12 meses ter sido praticamente a metade da inflação média no país.
“Por um lado, isso torna mais atrativo comer fora de casa. Mas coloca em risco milhares de negócios que lutam para se recuperar dos prejuízos acumulados”, diz o presidente-executivo da Abrasel.
Ongaratto comenta que a estratégia de “segurar” os preços e evitar o reajuste é bastante adotada pelos estabelecimentos capixabas.
“A solução para muitos desses casos tem sido reorganizar o financeiro, os processos e renegociar com fornecedores para manter o negócio de portas e não perder os clientes”, comenta.
Além da inflação, as dívidas também influem no resultado dos estabelecimentos. A grande maioria (69%) têm dívidas bancárias.
E um número chama a atenção: 13,6% do custo mensal, em média, estão comprometidos com o pagamento dos empréstimos.
Dos que tomaram dinheiro, 67% usaram linhas regulares dos bancos e 59% fizeram empréstimo via Pronampe; muitos negócios usaram os dois recursos.
Dos que pegaram empréstimo de linhas regulares, 26% têm parcelas em atraso, contra 13% que estão em atraso com parcelas do Pronampe.
Impostos
Os débitos com impostos também se acumulam; 42% dos bares e restaurantes enquadrados no Simples Nacional estão com o imposto atrasado (eles representam 83% dos respondentes).
Entre os que estão em atraso, 53% já aderiram ao Relp (programa de reescalonamento de dívidas do programa). O Perse, programa para reerguer o setor de eventos, mas que também engloba alguns tipos de bares e restaurantes, tem pouca penetração, em função do desconhecimento e das restrições.
Solmucci destaca que outro programa que poderia ser importante neste resgate do setor ainda não traz muito alívio. Cerca de 23% das empresas estão inscritas no Cadastur.
“Entre as que estão inscritas e têm débitos na dívida ativa, somente 16% aderiram ao Perse. E 39% disseram desconhecer o programa. Precisamos derrubar essas barreiras à adesão e deixar os critérios mais simples e mais abrangentes, pois o setor precisa de muita ajuda”, ratifica.