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Clube do Livro: a Escrevivência que arde os olhos

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

“Ninguém chora diante de um dicionário e as palavras estão lá, arrumadas bonitinhas. Mas elas só ganham sentidos, elas só te tocam se você transformar em uma vivência possível, que você já observou, ou até em uma ficção”. Conceição Evaristo

No dia seis de agosto, encerramos o ciclo um do Clube de Leitoras. Durante o primeiro semestre desse ano, percorremos um caminho literário pavimentado com livros escritos por mulheres. Desde o início, a proposta era encararmos nossas estantes, dispositivos de leitura digital, nomes de autores preferidos, listas de livros que já lemos e queremos ler e, de olhos bastante abertos, nos perguntarmos: quanto desses espaços é preenchido por escritoras mulheres? Que parcela da nossa formação enquanto leitoras e, por extensão, enquanto indivíduos e cidadãs é dedicada às linhas escritas por mulheres brasileiras? Quanto sabemos sobre as histórias, sobre a imaginação, sonhos, medos, desejo, vergonha, força, esperança, segredos e verdades que tantas mulheres já deixaram gravadas nas páginas da literatura brasileira?

É muito comum – e, até mesmo, repetitivo – ouvirmos as frases: “a leitura transforma”, “ler amplia o pensamento”, “quem lê, viaja por outros mundos”. Pois eu afirmo: depende daquilo que se lê e depende da atitude do leitor.

Escolher sempre os mesmos autores e gêneros, aceitar sem questionar as listas dos mais vendidos e mais indicados, confiar plenamente no gosto e nas opiniões de terceiros sem testar-se e sem construir uma autonomia que afia o senso crítico e nos afasta do lugar comum e, mesmo assim, gabar-se de uma suposta competência leitora é como ir sempre ao mesmo restaurante, pedir religiosamente o mesmo prato – com pequenas alterações nos temperos e acompanhamentos – e, com essa rotina insistente, ainda assim se considerar um exímio gourmet. A leitura é um hábito e, como tal, também pode nos encerrar em ciclos viciosos que mais funcionam como uma caixa de espelhos do que como um veículo de transformação e expansão. Repetidamente, os mesmos pontos de vista com os quais concordamos. Uma após outra, histórias parecidas que refletem quem somos ou quem imaginamos ser. Confortavelmente, as páginas como garantidoras que asseguram nosso bem estar e afagam nosso ego intelectual mimado, inseguro e incapaz de sair de si para ganhar o mundo.

Despida da sua qualidade provocadora e subversiva, a leitura se converte em mero passa tempo.

E não faço, aqui, uma crítica à leitura como lazer, mas antes quero indagar aos leitores se eles se conhecem o suficiente para discernir entre as muitas possibilidades que a literatura propõe.

A “escrevivência” de Conceição Evaristo, no livro Olhos D’água é de arder os olhos. Não porque sua poesia objetiva ferir, chocar, escandalizar ou constranger quem lê suas linhas. Antes, porque a própria vida queima os olhos daqueles que se utilizam de muitas lentes e muitas camadas de autoproteção para enxergar o mundo. A realidade viva de suas páginas existe por toda parte e a maioria dos olhos de mulheres do nosso país e do mundo não enxergará incômodo algum nos contos visceralmente construídos da autora mineira, simples e francamente, porque todas as histórias ali retratadas são suas próprias vidas e de suas mães, irmãs, filhas, amigas, avós e vizinhas. Como cansam de repetir os entendidos da psique humana: tudo aquilo que me incomoda no outro é uma pista valiosa do que preciso olhar em mim mesmo.

A pobreza não existe para chocar os abastados. A pobreza é fruto de mecanismos sócio econômicos injustos e excludentes e, se ela me causa mal estar ao invés de uma indignação cidadã é sinal claro e óbvio de que é necessária uma investigação de mim mesma para entender porque não consigo lidar com o mundo real, com o mundo cruel e cheio de contradições e violência.

Se a verdade dos corpos que não vivem como eu vivo, que não amam como eu amo e que não dispõem da segurança e das benesses que eu mesma gozo, se a existência de corpos expostos a ações que geram neles reações que eu não teria me atira em uma espiral de moralismos, autoproteção e justificativas pessoais é sinal que a literatura, por si só, não expande coisa alguma e não transforma ninguém. “Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra, e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?” escreveu Carlos Drummond de Andrade.

Os livros são portas, são portais, mas as chaves somos nós que as carregamos. Enquanto não destrancarmos quem somos permaneceremos com o nariz colado às paredes, cegos e surdos, cheios de muito pouco, eloquentes sobre quase nada.

Ao final desse ciclo de leituras – o primeiro de muitos, eu espero – na companhia da escrita viva e encarnada de Conceição Evaristo, o que eu desejo para e das próximas leituras é um mundo inteiro de portas escancaradamente abertas. Desejo ver o que nunca vi. Desejo experimentar ser o que não sou. Desejo ler e conhecer e sentir tudo o que essas mulheres são e escrevem para que ao menos um relance do que se pode experimentar dessa vida eu possa provar e sorver, através dos livros. Nada de frestas, de passagens semiabertas, de passos titubeantes. Parafraseando Guimarães Rosa: “o que as mulheres escreviventes querem de nós é coragem.” E tanto elas quanto eu não temos tempo para aqueles que não sabem como se usa uma chave.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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