Gabriel Costa Nadipeh, presidente da Central Única das Favelas (Cufa-ES) no Espírito Santo, lembra que no Dia da Favela, comemorado em quatro de novembro, há muito a que se refletir.

O presidente da Cufa-ES diz que o objetivo da comemoração do Dia da Favela é para ressignificar esse nome, que muitas vezes é lembrado apenas pela carga negativa, um reflexo de preconceito contra os moradores e contra os territórios que eles moram.

Gabriel destaca ainda que o que os moradores da favelas querem é comemorar e mostrar é a potência e a resiliência de quem mora nessas comunidades, que devem ser respeitadas e tratadas com dignidade, como todos os cidadãos.

“E essa reflexão vem no sentido de entender que há muita coisa positiva e muita coisa a se melhorar também. Na favela nós temos um povo que se destaca pelo trabalho, tendo que se virar para garantir sua sobrevivência”, enfatiza.

Gabriel destaca que são pessoas que ajudam o país a se desenvolver, a não parar, e que há muitos talentos também nesses territórios.

“São meninos e meninas cheios de sonhos precisando de oportunidades para chegar onde desejam. E isso é em diversas áreas, como na arte, no esporte, na cultura, na geração de renda e produção de conhecimento”, frisa.

Nadipeh lembra também que a favela é cheia de potencialidades e criatividade pulsante, porém enfrenta um outro lado, que é a ausência do Estado e a ausência de políticas públicas efetivas.

“Temos territórios que não tem saneamento básico, falta água tratada, a segurança pública não está presente, e muitos moradores ainda têm que se preocupar com o mais básico, que é ter o que comer. São mais de 400 mil pessoas no Estado passando fome e mais de 1.6 milhão enfrentando a insegurança alimentar”, esclarece.

O o presidente da Cufa-ES ressalta que falando da situação no Brasil não é diferente, já que são 33 milhões de brasileiros sem ter o que comer e 125 milhões enfrentando a insegurança alimentar.

“Temos muito a comemorar em relação ao moradores e muito a melhorar em relação aos territórios e o olhar do Estado para esses espaços. É isso, viva o Dia da Favela”, reflete.

Periferia x Favela

O presidente da Cufa-ES conta que desde pequeno entendia que todas as pessoas têm, ou deveriam ter, os mesmos direitos, independentemente de onde moravam,  da cor da pele, do dinheiro ou do grau instrução.

“Eu já sabia que não existia pessoas tipo 2, ou seja, que éramos todos seres humanos. Eu fui criado em um lar que discutia sobre as injustiças impostas sobre esses territórios chamados erroneamente de periferia”.

Segundo o presidente Gabriel,  existe uma diferença em relação ao que é favela e o que é periferia, e que embora pareçam sinônimos, não são.

Ele esclarece que periferia se refere a algo ao entorno de um centro, ao entorno de uma capital, ao arredor de um centro urbano e não necessariamente é um território vulnerável.

“Já as favelas são territórios em vulnerabilidade econômica e social, que alguns vão chamar de quebrada, invasão, comunidades, vilas. O IBGE chama esses territórios de aglomerados subnormais o que na minha visão é um termo muito pior, parecendo até que está se referindo à alguma sub-raça”.

Nadipeh diz que o termo favela nunca o incomodou, porque nasceu em uma e morou em outras, e que no decorrer da vida as pessoas da sua convivência sempre usararam esse mesmo termo no dia a dia, seja nas músicas, nos desenhos, no grafite.

“A questão é que as pessoas normalmente não dizem morar em favela para as pessoas de fora para não sofrerem preconceitos. Infelizmente muitos ainda acham que pelo fato da pessoa morar em favela é bandido, ou mau elemento. Então as pessoas escondem e chamam de bairro, comunidade e outros termos”.