Não há nada de romântico no luto.
Não é dolorosamente gratificante, tal qual um parto.
Não é cheio de expectiva, como uma tatuagem ou um procedimento estético.
Não é cercado de flores e corações como nos livros, com devaneios sonhadores sobre as infinitas possibilidades de ressurreição da pessoa amada.
O luto é circular, reflete-se nas paredes, teto e chão, como um globo espelhado.
O brilho das lágrimas cintila nas superfícies molhadas de sal e dor.
A perda aperta o peito como um infarto, como uma espada cravada no músculo.
Uma injeção diária de saudade se aplica sem auxílio no seu corpo e a reação automática é o enrolar dos nós em sua garganta.
O abrir dos dedos e o arrepiar da pele vêm com as imagens do fim, acompanhados pelo grito preso de ver a última pá de terra cobrir o túmulo.
Os dias que se seguem passam nebulosos e esquecíveis, singelos em sua força avassaladora de fazer sua vida mudar para sempre.
Se chegaste até aqui, caro leitor, é provável que estás a pensar que perdi alguém.
Perdi aquela que escreveu isso e com tremenda luta a reencontrei vazia e fria, tal qual um
cadáver de anos.
Eu poderia, de fato, estar falando sobre a morte física, mas eu apenas descrevi a depressão.
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Você não está sozinho!