Após a prisão de um armeiro de 39 anos em Cachoeiro de Itapemirim no mês passado, a Polícia Civil intensifica as investigações sobre o comércio ilegal de armas. O objetivo é localizar as armas e descobrir possíveis cúmplices.

Durante a operação, ocorrida no dia18 de dezembro, foram apreendidas 49 armas, munições e documentos falsos, além de constatações de um esquema que enganou dezenas de compradores em todo o Brasil.

O suspeito é proprietário de uma loja de armas, com estande de tiros, em Cachoeiro. O estabelecimento foi fechado durante a ação, que teve o apoio do Exército Brasileiro.

O delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), fez um apelo para que as pessoas que adquiriram armas com o armeiro apresentem espontaneamente.

“Se entregarem a arma voluntariamente, não serão presas em flagrante. Essa apresentação espontânea afasta o flagrante e demonstra boa-fé”, garantiu o delegado.

Investigação

O investigado, cujo nome não foi divulgado pela Polícia Civil, estaria realizando a venda de armas de fogo por meio de documentos falsos do Exército. Ele foi autuado por uso de documentos falsos, comércio ilegal de armas e associação para o tráfico

Segundo o delegado, as investigações revelaram um esquema que movimentou mais de 120 armas. Destas, pelo menos 14 foram vendidas ilegalmente com documentos falsos e entregues aos compradores, alguns com histórico criminal e que jamais poderiam adquirir armas de fogo de forma lícita.

Outras 12 armas ainda estariam em processo de entrega, enquanto nove desapareceram do estoque sem explicação.

Armas nas mãos do crime

A preocupação do delegado é que muitas destas armas possam estar nas mãos de criminosos. “Levantamentos estatísticos apontam que de cada 10 pistolas de uso restrito apreendidas com criminosos recentemente, nove foram adquiridas licitamente e posteriormente desviadas de forma criminosa”, explicou.

Durante a Operação Seródia, investigações conduzidas pela Denarc, em Cachoeiro de Itapemirim, revelaram que um traficante local estava adquirindo munições de forma ilegal por meio do armeiro preso. Em interceptações telemáticas, foi identificado um comprovante de transação PIX enviado ao suspeito, reforçando a ligação dele com o tráfico de drogas.

Outro fato que chama a atenção da polícia foi o desaparecimento suspeito de três armas, entre elas, um revólver calibre 357.

Ele registrou boletim de ocorrência alegando que seguia para Bom Jesus do Norte para treinar num clube de tiros local, quando o veículo apresentou falha mecânica. Ele saiu do carro e na volta teria encontrado o vidro quebrado e as armas furtadas. A polícia, no entanto, não acredita na versão do suspeito.

A Justiça autorizou a prorrogação das investigações por mais 30 dias para aprofundar análises financeiras e telemáticas, além de ouvir os envolvidos.

“Estamos cruzando dados financeiros, identificando outros envolvidos e rastreando as armas que desapareceram do estoque. A colaboração espontânea de quem comprou essas armas é fundamental”, concluiu Rodrigues.

Guilherme Eugênio reforça que qualquer delegacia pode receber as armas entregues voluntariamente.

Polícia diz que vai atrás de quem não entregar as armas

A polícia tem uma lista de compradores que adquiriram armas por meio do esquema. “Quem não se apresentar vai responder por posse ilegal de arma de uso permitido ou restrito, o que pode levar à prisão sem direito a fiança, dependendo do caso”, explicou o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues.

O delegado também destacou as penalidades severas para quem for pego com arma sem registro legal. “Se não se apresentarem, seremos obrigados a buscá-los. Boa parte dos compradores pode ter agido de boa-fé, mas é essencial que entreguem as armas e esclareçam sua situação”, reforçou.

Como identificar documentos falsos

A Polícia Civil divulgou dicas que podem ajudar as pessoas a identificar possíveis documentos falsos relacionados à aquisição de armas.

No Espírito Santo, todo documento relacionado a armas emitido pelo Exército deve ter a chancela do 38º Batalhão de Infantaria, sediado em Vila Velha.

Documentos do Espírito Santo vinculados a outras regiões militares, como a 1ª Região Militar – 1ª RM (Rio de Janeiro), são falsos.

Outra informação importante é que civis não podem possuir documentos de porte de arma expedidos pelo Exército. Esse tipo de registro é exclusivo de integrantes das forças armadas.

Por fim, em caso de dúvidas, é possível enviar uma cópia do documento ao 38º Batalhão de Infantaria por e-mail para verificação de autenticidade.

Para evitar riscos, o delegado orienta que qualquer pessoa que tenha adquirido armas ou documentos com o armeiro preso procure a delegacia mais próxima.