Deste a última quinta-feira (4), casos de violência notificados no Sistema Único de Saúde (SUS) passaram a ser comunicados por meio da Vigilância Epidemiológica do Estado. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a Portaria 018-R define a comunicação externa de eventos de violência, seguindo as orientações do Ministério da Saúde, como estratégia para cumprir a Lei 13.931/2019.
Com isso, situações de violência constatadas no SUS serão notificadas à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).
Em todo atendimento é obrigatório que o profissional que atender notifique por meio de formulário próprio à Vigilância Epidemiológica, da mesma forma que ocorre com a notificação do novo coronavírus (Covid-19) e outros agravos à saúde.
Quais são os casos?
A regra vale para qualquer atendimento ocorrido no serviço de saúde público, privado ou filantrópico; feito por qualquer profissional da saúde, em casos suspeitos, a partir de sinais e sintomas observados pelo servidor ou confirmados pela pessoa (criança, adolescentes, mulher, idosos, população LGBTQI+, pessoas com deficiência e/ou indígena) de ter sofrido violência.
Também os casos de violência sexual, autoprovocadas, doméstica, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal e tráfico de pessoas devem ser notificados à vigilância epidemiológica.
No caso das violências sofridas por crianças, adolescentes e idosos, por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Estatuto do Idoso, além de notificar à vigilância epidemiológica, o profissional deve fazer uma comunicação externa aos respectivos conselhos, delegacias ou Ministério Público (MP).
De acordo com a referência técnica em Vigilância de Violências e Acidentes da Secretaria da Saúde, Edleusa Cupertino, a notificação da violência pelos profissionais da saúde contribui para o dimensionamento epidemiológico do problema, permitindo o desenvolvimento de programas e ações específicas.
“A presente portaria vem regulamentar e ao mesmo tempo orientar o servidor sobre o cumprimento da determinação feita pela Lei 13.931/2019. Esse movimento dos dados da saúde para a segurança pública trará ao governo uma leitura mais precisa da realidade, sobretudo no Espírito Santo, pois escolas, Assistência Social e Saúde notificam para um mesmo banco”, disse Edleusa Cupertino.
A notificação
A notificação é parte da linha de cuidados às pessoas em situação de violência, que compreende quatro fases: acolhimento, atendimento, notificação e monitoramento/seguimento pela atenção primária no território.
A importância da notificação, além de fornecer dados para um banco de dados robusto, é a de avisar à Atenção Primária sobre os casos existentes no território para seguimento e monitoramento. A Sesa oficializa por meio da portaria que a comunicação externa de rotina será feita diretamente à Sesp, pela Sesa Central.
Excepcionalmente, em casos de risco à vítima ou à comunidade local, a própria Unidade de Saúde que estiver acolhendo deverá acionar o serviço do Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes-190). Na impossibilidade e não ter sido feito, a vigilância local deve acionar o Ciodes.
Identificação do profissional
A notificação para a Vigilância Epidemiológica é única e exclusivamente para disparar cuidados para as pessoas em situação de violência e para isso é necessário a identificação e localização da vítima, não sendo obrigatória a assinatura pessoal do profissional.
“No entanto, é obrigatória a assinatura institucional, identificando somente a unidade que atendeu o caso”, informou Edleusa Cupertino.
As notificações realizadas no SUS têm a finalidade de promover cuidados às vítimas e formar banco de dados que evidencie a violência ocorrida no território, caracterizando os tipos de violência, qual o sexo da pessoa mais atingida, qual a faixa etária, onde e quando mais ocorreu, quem é o possível agressor, qual a escolaridade da vítima, raça/cor, entre outras informações que ajudem na construção de políticas públicas de cuidado que dê respostas mais rápidas nas urgências, assim como propor promoção de saúde adequada e ainda fazer prevenção de violência, já que se trata de uma causa evitável de agressão à saúde.
“Assim, com essa portaria a Sesa reitera a necessidade de um trabalho em rede, se reconhece como sendo parte dela e se põe à disposição, garantindo o seu papel dentro da proposta do SUS”, esclareceu a referência técnica em Vigilância de Violências e Acidentes da Secretaria da Saúde, Edleusa Cupertino.