seg 16/dezembro/2024 07:50
Pesquisar
Close this search box.
Capa
Geral
Cachoeiro
Política
Oportunidade
Saúde
Educação
Economia
Agro
Segurança
Turismo
Esporte
DiaaDiaTV
Publ. Legal
Mundo Pet
Cultura

Tempo, tempo, tempo

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

“Esperarei pelo tempo 

com suas conquistas áridas. 

Esperarei que te seque, 

não na terra, Amor-Perfeito, 

num tempo depois das almas.”

Cecília Meireles

Vivo em remendos, na tentativa- sem sucesso- de costurar o tempo às necessidades. Lembro-me das conversas ao pé de minha avó e mãe, nas contações de histórias, e percebo o quanto o tempo era um personagem tão importante quanto os eventos ditos de forma sorrateira ou com um requinte de adjetivos.

O tempo ganhava peso e a intensidade das emoções era consolidada pela leveza das horas e das pessoas. Eram pessoas que se deixavam ir, permitiam que a vida tivesse outras nuances e invocavam, com precisão, a visita constante do senhor tempo.

Lembro-me de Drummond e sua “Lembrança do mundo antigo”, no qual temos a visão de um mundo que não mais é visto, um tempo que permitia as pessoas sonharem com mais maestria- não que não fazemos isso hoje- e que “ cartas custavam a chegar e havia manhãs”. Hoje, estou compelida a cumprir a rotina de uma vida atarefada e que me parece sempre estar atrasada.

Há um pragmatismo em tudo, um utilitarismo desnecessário de atividades que me afastam mais do outro e de quem sou realmente ( essência). A vida toma rumos descontroláveis e, quando me encontro ensimesmada, percebo que estamos sendo tomados e pouco restou de nós. Tenho trabalho, relógio, hora marcada, e não a mim mesmo, a alegria em descompassos e vias contrárias.

Penso, muitas vezes, o final disso tudo; qual o motivo de se engolir a comida e sapos e deixar para o próximo dia o que não se fará. Somos seres materialistas e esquecemos que o maior está no impalpável, nos deslizes e no incontável.

Nisso, lembro-me de outro texto, da Marina Colasanti ( a literatura sempre me salva), “ Eu sei, mas não devia”, em que vamos nos acostumando, nos “enformando” para que tornemos a vida igual, não ultrapassemos o que nos é permitido, nos é, violentamente, dado.

Neste tempo desenfreado, vou instituindo lugar às dores, mágoas, pois falta tempo para resolver ou sublimamos tudo para que ocupe o lugar devido sem grandes “perdas e danos”. Cansei de ouvir do outro- e dos escapes da minha voz- que não há tempo, não há possibilidade por motivo maior. Deixa-se escapar a inauguração de momentos únicos e nem se dar conta de lamentar ou só o que resta é a angústia de não segurar a corda, de danos da esperança sem, ao menos, dar folga ao que sufoca.

O momento oportuno para uma conversa vai sendo guardado no armário, a risada desavisada subterfugia na vida do meio, escondida nos escombros, o abraço fica entre os papéis amontoados na mesa do escritório, a poesia, já presente, fica a mercê de tantas escolhas e é deixada para depois. O amparo, o afeto, o querer bem, o que precisa ser dito e sentido vai se estendendo no vazio de uma hora que nunca chega ou só escapa de vez em quando.

O tempo, animal não domesticável, mistério que entremeia entre a vida e a morte, é o senhor de todos, sendo o braço amigo e aliado, como também o elemento que constrange as melhores memórias e devora as inconstâncias e os importantes devaneios. Como não me lembrar de “Oração ao tempo ( tempo, tempo, tempo)”, de Caetano Veloso? Como não evocar o tempo como o grande
compositor de destinos; o grande movimento da nossa estrada vida?

A falta, a ausência, a permanência e o fluxo de tempo são traçados, reflito, de uma vida que, ao ganhar aspectos da pós-modernidade, abarca novas vertentes e manifesta outras transgressões. Nada é tão presente- e ausente- neste tempo.

Construo minha identidade sobre cenários sombrios, curvos, oscilantes e sem amparos. E, destituídos de sombra e mares calmos, sou impelida a remar em correntes contrárias, a inventariar outras formas de vida e tempo. A vida se desprende fácil e a covardia costuma se render ao relógio. Minha sanidade quer diante do tempo loucura e, neste momento, horários e compromissos não me bastam.

(Reflexões para um fim de ciclo)

Simone Lacerda, cachoeirense de coração, é graduada e pós- graduada em Letras, com ênfase em Literatura Portuguesa e Brasileira e estudante de psicanálise, atuando como docente de Língua Portuguesa desde 2004. Participou do livro Esse Ofício das Letras, com quatro textos, e publicou seu livro solo – Arame Farpado – em 2017, por meio do Edital da Secult, pela Editora Cachoeiro Cult, além de ter contribuído com seus textos para jornais, revistas e sites. Sem dúvida, uma mulher de vieses e vozes, com “estrelas nos olhos e asas na alma”

Uma resposta

  1. Que texto lindo ‼️‼️ Sou sua tia e também Professora de Língua Portuguesa e Psicóloga. Amei seu texto, Simone‼️‼️ Jesus continue te abençoando Sempre e que continue a escrever textos tão lindos ‼️‼️ Parabéns, sobrinha‼️‼️🥰🥰🥰

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

acidente-carreta-onibus-br-101-11-12-2024

Papai Noel chega neste sábado à Praça de Fátima em Cachoeiro

automovel-apreendido-14-12-2024

Motorista escolar de prefeitura do Caparaó colide com veículos e é detido por embriaguez

caim

Rumo ao Inexplicável: A Marca de Caim

camara-vereadores-alto-13-12-2024

Câmara de Cachoeiro será destaque no Tour 360º a partir de segunda-feira

morte-crianca-ibatiba-13-12-2024

Menino de 10 anos morre após suposta agressão em escola de Ibatiba

Árvore de Natal e feira de artesanato

Contagem regressiva para programação de Natal na Praça de Fátima em Cachoeiro

Vereadores recebem selo diamante

Câmara de Cachoeiro recebe Selo Diamante em Transparência Pública em evento no TCE-ES

coletiva-ferracob-12-12-2024

Ferraço revela a equipe que irá comandar Cachoeiro a partir de janeiro

Leia mais
plugins premium WordPress