A Páscoa é uma dessas datas que ultrapassam o calendário e vão direto ao coração da gente. No Brasil, ela carrega um simbolismo que mistura fé, tradição e, claro, a alegria de reunir a família em torno da mesa. É um momento de partilha, de memória e de sabores que fazem parte da nossa história, muitos deles trazidos por imigrantes portugueses e italianos, que ajudaram a desenhar o nosso jeito de celebrar.

Entre tantos elementos que marcam essa época, o vinho ocupa um lugar especial. Desde os relatos bíblicos da Última Ceia até as tradições familiares mais simples, o vinho aparece como símbolo de comunhão, de renovação e de alegria. E não é à toa: poucas bebidas têm o poder de transformar uma refeição em um ritual afetivo como o vinho.

Nas mesas de Páscoa brasileiras, é comum encontrarmos pratos que seguem a tradição católica da abstinência de carnes vermelhas durante a Semana Santa, o que faz com que os peixes e frutos do mar sejam os grandes protagonistas desses dias. O bacalhau, por exemplo, reina absoluto em muitas casas, mantendo viva a herança portuguesa.

Em Portugal a harmonização com bacalhau ganha destaque com os tintos de taninos suaves, como os tintos do Douro, do Dão e os Alentejanos. Entretanto vinhos brancos com mais corpo, como um Chardonnay com leve passagem por madeira ou um Arinto ou Alvarinho português, conseguem equilibrar a untuosidade do prato e ressaltam seus sabores marcantes.

Moqueca capixaba

Todavia a cozinha brasileira não se limita ao bacalhau. Muitos optam por peixes locais assados, aqui no Espírito Santo a tradicional torta de bacalhau e a moqueca capixaba são presença certa nos dias de celebração. Esses pratos pedem vinhos mais frescos e vibrantes. Um Sauvignon Blanc, com sua acidez marcante e notas cítricas, combina com a leveza desses preparos. Os espumantes brut também se mostram verdadeiros coringas: vão bem da entrada à sobremesa e ainda trazem aquela alegria extra para o brinde.

Há também quem preserve o cordeiro como prato principal da Páscoa, uma referência direta às origens bíblicas da celebração. Nesse caso, vinhos tintos de médio corpo, como um Merlot ou um Carménère, são perfeitos para harmonizar com a suculência e os temperos do assado. Novamente os vinhos portugueses das regiões do Douro ou do Alentejo também são ótimas opções, carregando um pouco da alma das celebrações mais antigas.

Chocolate

E como falar de Páscoa no Brasil sem lembrar do chocolate? Um dos maiores prazeres da harmonização. No enorme leque de opções de ovos de Páscoa, podemos encontrar excelentes formas de harmonização. Chocolates ao leite, com sua doçura e textura cremosa, ficam ainda mais gostosos ao lado de um espumante Moscatel ou de vinhos fortificados.

Já os chocolates amargos pedem vinhos mais estruturados e doces, como um Porto Ruby ou mesmo um licoroso de uvas especiais. É um encontro de intensidades, que quando bem escolhido, transforma a sobremesa em uma experiência inesquecível.

O mais bonito de harmonizar vinhos na Páscoa é entender que mais importante do que seguir regras rígidas é criar momentos de afeto. Um almoço de Páscoa pode muito bem começar com um espumante fresco, seguir com um vinho branco leve, passar para um tinto suave e encerrar com um vinho doce, tudo isso respeitando os sabores da mesa e os gostos dos convidados. Porque vinho, no fim das contas, é sobre isso: celebração, partilha e prazer.

Que a sua Páscoa seja assim: cheia de encontros, de memórias boas e de taças que se cruzam em brindes cheios de significado. Afinal, tradição boa é aquela que a gente continua escrevendo, de preferência ao redor da mesa, com quem a gente ama.