Há praticamente um ano, assisti ao filme – Garotas do calendário, com minhas amigas, que formavam o @3X4_filmes. Discutimos a respeito da imagem corporal, como seguimos parâmetros impostos consciente e inconscientemente, e nos questionamos sobre nossas atitudes frente a nós mesmas.
Garotas do Calendário, 2003, é um filme baseado em fatos reais, que discorre sobre as vidas de mulheres que vivem no interior de Yorkshire, que com o desdobrar da história passam a enxergar com os olhos de quem cuida e aprecia, ao invés daqueles que condenam e denunciam os sinais físicos, emocionais e sutis que são despertados ao envelhecermos.
Ao longo da pandemia, esse assunto que normalmente esteve em voga em minhas reflexões, tornou-se mais intrigante. Questiono-me, quase que constantemente, o porquê de minhas escolhas, e das tendências que surgem, ou até mesmo das ânsias relacionadas às questões que eu já as julgava bem resolvidas, como: meu corpo, minhas expressões faciais, meu nariz, meu peso, minhas manchas, e minhas cicatrizes.
Refletindo sobre minhas análises autocríticas, pensei: “Por que estou sentindo isso?”. E cheguei à conclusão de sempre: a grande exposição à parte da vida, ou à versão disponível nas redes nos ludibriam e nos fazem esquecer que é natural – ter espinhas, manchas, e inseguranças. Agora, pense: “Quais foram as coisas que você deixou de fazer enquanto esteve sozinho (a)?. E por que você deixou de fazer isso? E por que, ou melhor, e por quem você voltaria a fazer isso?”.
Apesar de vivermos em tempos sombrios, com códigos de ética e moral difundidos ao avesso, questões sociais que chegam a causar revolta e vertigem por nos sentirmos, frequentemente, arremessados a distopia ufanista, que amassa e espalha ainda mais o desânimo instalado por cada canto brasileiro. As rédeas que podemos tomar são: as de nossas vidas.
O coletivo é importante – sim, mas não há nada que se encaixe, ou que floresça, sem antes sabermos as propriedades que nutrem o nosso solo para o plantio. Assim, conhecermos, e melhor do que isso, cuidarmos de nós mesmos, é um pilar fundamental para sustentarmos as estruturas que nos erguem e nos cercam.
Ahimsa (não-violência) é uma das condutas morais mais importantes para a prática do Yoga, suas formas se ramificam em: física, verbal e mental. Este preceito nos convida a olharmos para nós mesmos com gentileza e afeição, a praticarmos algo que apesar de ser lógico, nem sempre é aplicado: a empatia para com nós mesmos.
Permita-se, fique de frente a um espelho, admire-se, olhe suas marcas, cicatrizes, “imperfeições”, e pense o quão único (a) és. São histórias que seu corpo carrega em relevo, linhas, e desdobramentos, algumas histórias podem ser tristes, outras alegres, mas independentemente do sentimento que desperte, o destino é o mesmo: estará ali contigo, se permissível, por toda a jornada de sua vida, como um lembrete de que por mais que doa, que demore, TUDO PASSA.
Como as mulheres de Yorkshire, permita-se, nem que seja por alguns momentos, dedique um tempo a si mesmo (a), adorne-se, contemple-se, e reverencie o templo que você habita, e cultive a terra para que a semente da gentileza germine, e enraíze em sua alma, alimentando, nutrindo para que a cada passo seja firme para seguir o seu próprio caminho.