O submarino alemão? O leitor deve estar se perguntando: em Cachoeiro existe um submarino alemão? Não exatamente, porém existe alguém, um cachoeirense em especial, que conhece a localização de um U-Boat.
O submarino alemão: U-Boat
Os U-Boat ou U-Boot no original em alemão (uma abreviatura de Unterseeboot – ou embarcação submarina, em português) consistem em uma série de submarinos militares fabricados e operados pela Alemanha nas duas Guerras Mundiais.
Essas temíveis máquinas de guerra representavam o ápice da tecnologia da Alemanha nazista em termos de invisibilidade, mobilidade tática e poderio militar.
De 1941 a 1944, 35 navios brasileiros foram atacados, 33 afundados e, com exceção de um, afundado por um ataque aéreo, os outros 32 são obra de ataques causados pelos infames U-boats alemães.
O motivo dos ataques? Pelo fato de o Brasil ser aliado dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive sendo um dos maiores fornecedores de matéria-prima para indústria bélica norte-americana.
Mas os submarinos nazistas também foram atacados pela artilharia aliada no litoral brasileiro. Muitos estão no fundo do mar, desde o litoral de Santa Catarina até o litoral do Pará.
Porém, o que nos interessa é o submarino que foi afundado, ou naufragado nas costas sul capixaba. E uma vez apresentado o teatro de operações da época, convido o leitor a embarcar na história desse atípico cachoeirense que vou apresentar, que se deparou, mais de 50 anos depois, com essa relíquia no fundo do mar.
O cachoeirense
O nome dele é Jorge Tanure, vulgo Gin.
Gin, como é popularmente conhecido em Cachoeiro, vem de uma família tradicional, e de um berço muito especial. Disposto a retribuir todo o carinho de seus pais, Gin se alista na Marinha do Brasil, onde faz carreira no Grumec, grupo de mergulhadores de combate, considerada a tropa de elite da Marinha embarcada ou marinha de gola. Sim, caro leitor, Gin, esse nobre cachoeirense, fez parte do grupamento de elite da Marinha do Brasil.
Gin logo se torna instrutor de mergulho, e além de prestar serviço à Marinha, também se tornou mergulhador de plataforma de petróleo, onde realizava mergulhos de saturação, a mais de cem metros de profundidade, no perigosíssimo Sinos de Mergulho. E, infelizmente, em um desses mergulhos ocorre um acidente: uma tubulação de gás explode e quase encerra a carreira desse filho de Cachoeiro de Itapemirim.
Devido a esse acidente, ele volta para Cachoeiro, mas não abatido. Determinado, monta sua escola de mergulho, a primeira do Sul do Estado e uma das primeiras do ES.
Além de ser instrutor da operadora internacional CMAS (Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas) três estrelas, Gin é também mergulhador de apneia.
Recordista mundial desde 1998
Sim, Cachoeiro, possui um recordista mundial. Em um desses mergulhos, ele bate o recorde mundial de caça submarina ao caçar no arpão um robalo de aproximadamente 30 quilos. Recorde que se mantém até hoje, mais de 20 anos depois. Convido o leitor a acessar os links do recorde no final da matéria.
Gin e o submarino, o encontro
Uma vez apresentada a história de ambos personagens desse artigo, vamos direto ao encontro:
Gin, depois de dois dias pescando e mergulhando no litoral Sul do Espírito Santo, na divisa com o estado do Rio de Janeiro, em seu barco de pesca, o Jhonny Roger,(O nosso cachoeirense é proprietário de um barco de pesca, e seu nome é em homenagem ao lendário pirata), estava regressando à terra firme quando, de repente, um equipamento cai na água. Devido a importância desse equipamento, ele mergulha e, ao chegar no fundo procurando pelo objeto, ele o encontra.
Envolto a mistérios, a corais e repousando silenciosamente na região abissal estava ele, o lendário U-boat alemão, danificado e enferrujado, se deteriorando lentamentamente nos braços do amargo oceano, coberto por uma mortalha infinita de água.
O submarino, que em outros tempos era o orgulho de sua amada pátria, agora jazia em um silêncio profundo e sepulcral.
Gin, ao se deparar com o submarino, soube no mesmo momento da dimensão de sua acidental descoberta. O peso de anos de História, o relato silencioso da Segunda Guerra Mundial diante dele.
Então, ao verificar as condições técnicas do mergulho, o nosso cachoeirense fez a devida constatação, analisando o submarino de proa a popa e teve certeza, pela sua experiência de lobo do mar, que estava diante de uma máquina de guerra.
E assim Gin recolheu objetos desse submarino, como um binóculo, um objeto que faz a leitura da estabilidade do submarino e também uma bússola, e subiu à superfície…
A localização
O submarino está naufragado a 50 metros de profundidade, deitado de lado e encostado em um monte de terra subaquática.
A sua localização? Somente Gin a possui em dados de GPS.
O futuro
Gin é instrutor de mergulho, ministra cursos de mergulho de resgate.
Foi segurança do ex-deputado federal Camilo Cola.
Piloto de helicóptero, inclusive levou o alpinista cachoeirense Nicacio de Paula no topo do Itabira.
E professor de kung fu.
Foi Grumec.
E atualmente está na Guarda Civil Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, sendo um orgulho para a corporação.
Os dados de GPS, com a latitude e a longitude exatas da localização do submarino, encontra-se sob sua proteção, “aguardando um momento especial para revelar ao mundo esse legado histórico”.
O submarino e seus restos mortais são um verdadeiro chamado para caçadores de tesouro e oportunisras de plantão. Logo, Gin se tornou o guardião desse segredo.
Essa fantástica história pude vivenciar ao entrevistar esse desbravador do nosso tempo. Esse explorador da Capital Secreta. O submarino e seu descobridor merecem estar na série Cachoeiro e seus mistérios.
Os recordes mundiais
Site da IUSA (International Underwater Spearfishing Association ou Associação Internacional de Caça Submarina). Robalo está em inglês, snook:
http://www.iusarecords.com/RecordsWorld.aspx
http://www.iusarecords.com/ViewRecord.aspx?id=156
Site da Confederação Brasileira de Caça Submarina (CBCS):
http://www.cbcs.com.br/recordes.asp
http://www.cbcs.com.br/fotos/robalo.htm
Alguns objetos resgatados
Sobre o autor: Marcio do Nascimento Santana é historiador, montanhista e membro do Instituto Historico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.