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Filme: Alexandria – sobre as mulheres que são apagadas todos os dias

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Mulheres tendo seu trabalho apropriado/plagiado por homens desde Hipátia até aqui: tem alguém surpreso?

Ana Líbia

 

Não Ana, não deveria ter alguém surpreso. Na última quinta feira, Valeska Zanello fez uma postagem em seu instagram dizendo que seu trabalho e trechos de seus livros tinham sido literalmente copiados – pelo menos três vezes, segundo ela – por um estudante de psicologia que ganhou muita visibilidade no instagram e em canais de TV falando sobre – pasmem – masculinidade tóxica e misoginia. Plágio é crime, mas nesse caso é revoltante que os mais de 20 anos de trabalho e pesquisa de uma mulher foram usados sem lhe dar os créditos por um homem que ficou famoso fazendo postagens e vídeos para “ensinar” às mulheres sobre como lidar com homens que exercem poder sobre elas, seus corpos, sua afetividade e psique. Valeska é pós-doutora em psicologia clínica, graduada em psicologia e em filosofia, professora adjunta do Departamento de Psicologia da UnB (Universidade de Brasília), orientadora de mestrado e doutorado no Programa de pós-graduação em Psicologia e coordena o grupo de pesquisa de saúde mental e gênero do CNPq. Na bio do instagram do rapaz que supostamente cometeu plágio (e uso aqui a palavra “supostamente” porque é necessário esperar que as provas sejam averiguadas e que os trâmites jurídicos ocorram para que se possa fazer qualquer afirmação contra ele e contra sua conduta) lê-se: escritor, palestrante e pesquisador da psicologia das masculinidades, academicista de psicologia. Agora, uma pergunta: como é possível que uma mulher com esse currículo possa ter 25 mil seguidores enquanto um homem “academicista” – palavra que é sinônimo de universitário – possa ter 300 mil seguidores e que participe de programas em canais grandes de televisão e internet dando entrevistas e orientações sobre um assunto? Respondo: porque é através da apropriação do trabalho físico e intelectual das mulheres que os homens se mantêm em um lugar de exercer poder sobre nós.

Porque a sociedade em que vivemos aceita, sem questionar, os discursos e ideias que um homem propõe. Porque a grande maioria dos homens e, infelizmente, muitas mulheres validam e acolhem o que qualquer homem diz e tem muita dificuldade de buscar e apoiar o trabalho de mulheres.

Quero deixar claro que o que acabei de apresentar como respostas para a pergunta que fiz é uma enorme simplificação de uma estrutura muito complexa de dominação e organização social através do controle das mulheres exercido pelos homens, assunto sobre o qual não tenho domínio e que não pretendo me estender aqui nessa coluna. O que pretendo ao trazer essa notícia para uma coluna de cinema é, a partir desse fato que aconteceu há poucos dias, falar de um filme muito relevante para pensarmos o mundo em que vivemos e em como as mulheres estão inseridas nesse jogo de poder e subjugação que é a vida na sociedade do século 21.

A frase em itálico que abre esse texto foi postada por uma querida amiga minha em seu Instagram. Ao citar o nome Hipátia, Ana faz referência à filósofa Hipátia de Alexandria, a primeira mulher documentada como tendo sido uma matemática. Sua história foi contada no filme Alexandria – 2009, disponível na Claro filmes e no MUBI – e foi a postagem de Ana Líbia que me motivou a decidir escrever sobre esse filme específico para a coluna dessa semana. Hipátia nasceu por volta do ano de 355, no Egito, e foi chefe da escola platônica em Alexandria, onde, além de matemática, também lecionou filosofia e astronomia. O período em que ela viveu foi fortemente marcado por muitos conflitos, pois o império romano passava por uma transição de um estado totalmente pagão para um estado misto pagão e cristão. Foi nesse contexto que, por defender o racionalismo científico e por acreditar naquilo que estudava, Hipátia foi acusada de blasfêmia contra o cristianismo e sofreu uma emboscada: atacada na rua, ela teve suas roupas rasgadas e seus braços e pernas arrancados e por fim, o resto de seu corpo foi queimado. As obras e estudos de Hipátia se perderam com a destruição da biblioteca de Alexandria.

De Hipatia – mulher do século 4 – até hoje, nossos conhecimentos e nossas vidas são arrancados de nós e devemos ser obedientes e subservientes aos homens que não escutam as nossas vozes.

Um lugar seguro para uma mulher – seja ele um lar, um local de trabalho, uma cidade ou um país – não é aquele em que uma mulher pode chorar ou demonstrar suas dores e tristezas. Um lugar seguro para uma mulher é onde ela pode falar e ser ouvida com respeito, é onde ela pode opinar sem temer ser silenciada ou interrompida, é onde ela terá certeza de que seu trabalho e seus pensamentos serão admirados e reconhecidos e não serão usados por homens para benefício próprio e, sobretudo, é onde ela pode discordar sem o medo de estar colocando sua integridade física e sua vida em risco. Alexandria é um filme duro e triste, sobre um lugar no tempo e no espaço que ainda encontra eco em muitos lugares, em muitas atitudes e em muitas pessoas – sim, algumas vezes de formas mais brandas, mas que não deixam de ser violentas –, infelizmente, até os dias de hoje. De forma alguma esse era o texto que eu gostaria de publicar em uma data tão próxima ao dia internacional da mulher. Esse não é o texto que eu quero porque essa não é a sociedade que eu quero, não é realidade que eu quero e não é o mundo que eu quero. Porém, – e, me pergunto, até quando precisaremos de tudo o que vem depois de um porém… – esse é o texto que eu preciso e devo escrever, sobre um filme que todos e todas devem conhecer e assistir porque, para as mulheres, não há um dia sequer que o nosso querer seja levado em consideração e que nós sejamos respeitadas. Porque para nós, mulheres, junto a todos os muitos e pesados deveres que carregamos e que nos obrigam a abraçar, a acatar e, monstruosamente, nos obrigam até a amar, o único dever ao qual não podemos, nunca, nos eximirmos de cumprir é o dever de falar, lutar e brigar por nós mesmas, pela nossa plena e completa e digna existência. Mesmo não sendo o texto que eu quero, esse é o texto que eu devo escrever porque escrevo por mim e por todas as mulheres, até mesmo por aquelas que continuam insistindo em validar e admirar os homens que se apropriam do que é nosso.

Mesmo por aquelas que seguirão pela vida ainda sem se revoltar contra e sem entender que se curvar perante uma existência sem voz, sem respeito e sem lugar é, desde os tempos de Hipátia até o dia de hoje, uma existência que acata e que testemunha a nossa anulação, o nosso silenciamento e a nossa própria morte.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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