Evoco os momentos de infância que me espelham ser como ele. Seu sorriso, sua bondade e generosidade, refletindo tudo que uma boa pessoa deveria ser. Os momentos que passei com ele carregavam uma inocência, sem nunca pensar “nada é para sempre”. Vivi intensamente, mas hoje sei que deveria ter aproveitado mais.
Hoje, ele está velho, suas histórias são feitas principalmente dos contextos de sua infância. Como sabemos, retornamos a ser crianças, com o passar dos anos. Cabe a mim cuidar dele. Não digo ser tarefa fácil e, o mais árduo, é vê-lo se apagando como uma vela. Quem dera se pudéssemos viver eternamente, mas sabemos que isso é impossível.
Em certo momento, pego-me olhando para ele, recordando tantos momentos felizes que passamos juntos. Como aprendi vivendo ao seu lado. Ele me proporcionou a melhor vida que pude ter.
Hoje, seu sorriso se transformou em reclamações, sua bondade, em cansaço àqueles que estão ao seu lado, sua generosidade, em insistência e teimosia em ter, doar, comprar sem poder ou precisar. Minha admiração se abala pela exaustão causada por cuidar. Seria mentirosa se romantizasse as obrigações que caíram sobre mim.
Mas, no mesmo instante que choro pela responsabilidade que tenho, sou tomada pelos momentos inesquecíveis que retornam ao meu coração, fazendo-me viver cada segundo que ainda tenho com ele como se fosse o último.
Serei grata eternamente pelos poucos momentos que tive e ainda terei ao seu lado, mas que foram os melhores de minha vida.