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O belíssimo cruzeiro nas montanhas de Auto Caxixe, em Castelo no Espírito Santo. Foto divulgação

Sobre Homens e Montanhas: Os Cruzeiros e suas origens

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Marcio do Nascimento Santana
O mais famoso cruzeiro capixaba, Pico da Bandeira. Foto divulgação.

 

Uma vida é como o brilho de um relâmpago no céu. Levada pela torrente montanha abaixo.

Buda

 

Cruzeiros e cruzes

Existe no Brasil e no Mundo uma tradição histórica e praticamente secular, presente praticamente em quase todos os Países Cristãos, e que por muitas pessoas passam despercebidos, que seria a construção de cruzeiros no topo de montanhas considerada importantes, seja para uma única pessoa, para uma comunidade ou  ate mesmo uma região ou um Pais inteiro, cuja função seria de adornar o seu cume e celebrar a religiosidade Cristã. E essas cruzes podem ser feitas dos mais diversos materiais, entre eles, alvenaria, pedra, metal, fibra e até do mais antigo e comum de todos os materiais, a madeira.

E Cruzeiro nada mais é que uma cruz de grandes dimensões, monumental, enorme , que além de estarem em cumes de montanhas também são colocados em frentes a igrejas, cemitérios, mosteiros e  em encruzilhadas, como e o caso de países como Espanha, Irlanda e Inglaterra. No Caminho de São Thiago de Compostela, por exemplo, elas são abundantes, se misturando na maior parte da paisagem dos 777 quilômetros do percurso.

 

A Origem

Não se sabe ao certo quando essa tradição de homens levantando cruzeiros para sinalizar o ponto mais alto de uma montanha começou, mas posso enquanto Historiador, presumir que a grande maioria dos montanhistas, até meados do século XX, era de religião predominantemente católica, logo construir uma cruz no topo, seria uma forma de abençoar aquele local.

Estima-se ainda que essa tradição pode ter sido originária da Idade Media, uma vez que uma cruz gigantesca no cume de uma montanha poderia auxiliar a navegação de embarcações ao longo da costa europeia

Outra explicação, em especial no Brasil, seria que as cruzes eram, em tempos de seca intensa, uma forma de atrair chuvas ou de agradecer por elas. Tendo em vista que a maioria das pessoas do campo, em sua simplicidade, subia as montanhas para fazer correntes de oração para pedir essa bênção dos céus, e também para pedir cura de doenças e outras graças, e  uma vez alcançada, motivados pela fé levavam em lombos de mulas e ate mesmo nos braços, materiais pesados para a construção desse icônico monumento dedicado a fé. Um esforço hercúleo, realizado como uma forma  sincera de agradecimento

E vale destacar um outro ritual em que algumas localidades, pessoas subiam essas montanhas com lata de agua pesada na cabeça afim de despejarem o precioso liquido aos pês dos cruzeiros com objetivo de pedir chuva ou estiagem. Tal prática era muito comum em Muniz Freire, cidade do interior do Espírito Santo.

 

Os 3 cruzeiros do Pico da Pedra Lisa em Burarama. Foto de Paulo Cesar Casagrande.

Uma outra explicação, residiria no fato de Jesus ter sido crucificado no topo de um monte, conhecido como Gólgota. Por esse motivo é muito comum encontrar ate três cruzeiros em um único cume. Logo essas cruzes teriam  objetivo de relembrar o sofrimento que o salvador passou junto aos dois ladrões, para salvar a humanidade.

Vale lembrar que não seria apenas os montanhistas e pessoas mais simples que construíam cruzeiros no cume de montanhas, mas também reis e rainhas, como e o caso do cruzeiro do Pico da Bandeira, que fora construído por influência de Dom Pedro II. Logo nobres e camponeses, montanhistas  e  agricultores… Pessoas tão diferentes e com costumes tão distantes, tem no topo das montanhas algo em comum, que seria a manifestação da fé através da Cruz.

 

Símbolo

Seja qual for a verdadeira origem, uma coisa é certa as cruzes transcenderam o seu valor religioso e de uma forma técnica também se tornaram símbolo de cume. E elas se erguem, umas de forma mais humilde, escondidas em meio à vegetação, em várias montanhas anônimas pelo mundo e outras de forma mais elegantes e majestosas em montanhas mais imponentes, como os Alpes na Europa.

O simbolismo da cruz é tão forte, que dependendo do acesso da montanha, as pessoas se reúnem para celebrar missas e cultos em seu cume. Em especial nas localidades rurais.

 

A Cruz do Milênio

É uma gigantesca cruz de  66 metros de altura situada no topo da montanha Vodno, com 1.066 metros de altitude, na cidade de Escópia, capital da Macedônia, e foi construída em comemoração aos 2000 anos do cristianismo no mundo. É considerada até hoje o maior cruzeiro do mundo.

Cruzeiro do Monte Vodno, a maior cruz do mundo. Foto divulgação.

O Monte Vodno no tempo do Império Otomano era conhecido como Krstovar, cujo significado seria “lugar da cruz”.

 

Cachoeiro de Itapemirim e imediações

Na minha querida cidade, e em cidades vizinhas não poderia ser diferente, existem montanhas com cruzes em seu cume, entre elas posso citar alguns exemplos:

 

Cachoeiro de Itapemirim:

  • O Pico da Capela São Paulinho ou Pedra do Elefante;
  • O Pico da Capela de Canta Galo em Burarama;
  • O Pico da Pedra Lisa também em Burarama;
  • O Pico do Cruzeiro de Santa Fé;
  • O Pico da Pedra da Penha (Ponto culminante de nosso município);
  • O Pico do Cruzeiro de Taquarinha na comunidade de Alto Gruta.

 

Castelo:

  • O Pico do Forno Grande (Montanha mais alta do estado 100% capixaba);
  • O Pico do Cruzeiro de Alto Caxixe;
  • O Pico do Cruzeiro de Corumbá.

 

Atílio Vivacqua:

  • O Pico do Moitão do Norte;

 

Dores do Rio Preto:

  • O  mais famoso de todos, o Pico da Bandeira.

 

Para frente e para o alto;

Montanha Brasil.

Para saber mais:

Fiquem com a panorâmica do Cruzeiro de Caxixe:

 

Marcio do Nascimento Santana, Historiador com formação em Arqueologia, Montanhista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim

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