ARTIGO: Marcio do Nascimento Santana, historiador, montanhista, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.
“A fé move montanhas, mas eu prefiro dinamite.”
Soldado Anônimo
As montanhas sempre desempenharam um papel importante na história da humanidade. Elas representam não apenas uma parte do nosso meio ambiente, mas também estão profundamente enraizadas na nossa imaginação; nós demos-lhes um significado simbólico, nós as tornamos objetos de adoração e arte. Uma autêntica fronteira natural, porém as montanhas, além de servirem para a prática de desportos, também têm sido consideradas, do ponto de vista militar, pontos estratégicos.
Logo, o objetivo deste artigo é destacar a importância desse relevo magnifico para a história da humanidade no combate às forças do mal e opressoras, como os nazistas e outros conquistadores.
O assunto é vasto e praticamente inesgotável. Assim, escolhi apenas algumas batalhas, a título de exemplo, para ilustrar este artigo e procurarei ser breve. Que minhas palavras levem o caro leitor a viajar no tempo e na História.
Guerra de Montanha, alguns exemplos
Na antiguidade
Começaremos pela História Antiga, em especial a de Roma, onde vislumbramos o primeiro exemplo de guerra de montanha sendo utilizada. Trata-se da famosa travessia dos Alpes pelas tropas do general Anibal, o cartaginês, cujo esforço hercúleo consistia em não só atravessar essa imensa barreira rochosa, mas também transpor centenas de soldados em segurança, incluindo elefantes.
Essa travessia, que a princípio era tida como impossível, acabou se tornando um marco nas histórias de guerra, pois Anibal usou as montanhas como um fator estratégico e concedeu a ele o elemento surpresa. O seu ousado empreendimento militar custou a ele a eternidade nos livros de História, e sim, ele surpreendeu os romanos ao atacar pelas costas.
No século XX
1ª Guerra Mundial
Durante a 1ª Guerra Mundial ocorreu a guerra mais sangrenta e violenta nas montanhas. A partir desse ponto, podemos começar a falar efetivamente sobre a existência da guerra nas montanhas. Nós a conhecemos como a Guerra Alpina. A luta foi entre italianos e austríacos, com vitória para a Itália.
2ª Guerra Mundial
A Batalha de Monte Castello foi travada ao final da 2ª Guerra Mundial entre as tropas aliadas e as forças do exército alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. A batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945. O palco dessa batalha foi o Monte Gaggio Montano, a 40 km a norte de Pistoia, em cujo cemitério há um monumento aos combatentes brasileiros. O Brasil venceu.
Na América do Sul
A Travessia dos Andes foi um dos feitos mais importantes nas guerras de independência da Argentina e do Chile, em que um exército combinado de soldados argentinos e exilados chilenos invadiu o Chile, levando à libertação da região do domínio espanhol. A travessia dos Andes foi um grande passo na estratégia concebida por Jose de San Martin para derrotar as forças favoráveis à coroa espanhola em sua fortaleza de Lima, no Vice-Reino do Peru, e garantir os movimentos de independência da América Espanhola.
No Brasil, em especial no Espirito Santo
A Guerrilha do Caparaó foi uma insurgência armada contra o regime militar brasileiro feita por ex-militares cassados. Inspirado na guerrilha de Serra Maestra, esse movimento teve lugar na Serra do Caparaó, no Pico da Bandeira que se eleva quase a 3 mil metros, sendo a terceira maior montanha do Brasil, e fica na divisa entre os estados do Espírito Santo e Minas Gerais, no período 1966-1967. O movimento foi rechaçado em abril de 1967 por grupos da Policia Militar mineira e capixaba. O maior trabalho das forças do estado foi localizar os rebeldes no difícil terreno montanhoso.
Aviões, tanques de guerra e helicópteros
Helicópteros e aviões, veículos militares notáveis e que são ímpares em apoio logístico e bélico, e imprescendíveis em desembarque de tropas, seja por terra, rapel, corda ligeira ou simplesmente por meio de paraquedistas, também são afetados pela turbulência e correntes de ar existentes em montanhas.
Durante a operação Mare’s Nest, em Chipre, por exemplo, e que foi encerrada em janeiro de 1959, a turbulência atmosférica impediu que helicópteros Sycamore e Whirlwind da RAF pairassem sobre os picos e os soldados não conseguiram descer usando cordas. Em consequência, apenas 2 postos de observação foram estabelecidos, quase ocasionando perdas irreparáveis, em vidas humanas e equipamentos tecnológicos.
Nessa ótica, os blindados terrestres são praticamente ineficazes, tendo em vista o seu desempenho em se locomover na verticalidade dos grandes abismos.
Soldados e adversidades
Mas por que é que uma guerra numa montanha é tão diferente de uma guerra num terreno plano? Devido às condições ambientais particulares, os soldados que lutam nas montanhas precisam não só enfrentar o inimigo, mas também lutar contra o clima implacável, o terreno, e outras peculiaridades determinadas pelas características peculiares da paisagem montanhosa, que exigem que os soldados sejam treinados de uma maneira diferenciada, inclusive para sobreviver à hipotermia.
Ou seja, lugares que nunca foram pensados como um possível campo de batalha tornaram-se de importância vital para a sobrevivência de nações, e soldados tiveram que ser treinados especificamente para resistir e lutar nas montanhas.
E nesse contexto, onde quer que um terreno montanhoso constituísse uma porção relevante do território nacional houve a necessidade de criarem as forças militares alpinas, ou tropas de elite de montanhas. Confira na lista abaixo algumas das tropas especiais de montanhas ao redor do mundo.
Obs: a maioria delas foi criada durante a 1ª e 2ª Guerra Mundial,
Forças Militares Alpinas ou de Montanha
No Brasil: 11º Batalhão de Infantaria ,Batalhão de São José Del Rei ou simplesmente o 11 de Tiradentes
Nos Estados Unidos: 10º Regimento de Montanha, cujo símbolo é formado por duas baionetas cruzadas, em referência ao número 10, em algarismo romano.
Na Itália: Alpini Italiano, a consagrada tropa italiana formada durante a 2ª Guerra Mundial.
Na Alemanha: Gebirgsjager, a resposta alemã aos adversários durante a 2ª Guerra Mundial, atualmente possui mais de 5 mil soldados.
Na França: Chasseurs Alpins, também conhecidos como Les diables bleus ou Os Diabos Azuis.
Na Argentina: Cazadores de Montaña.
Na Polônia: os Strzelcy podhalańscy.
Na Romênia: Vânători de Munte.
Os melhores do mundo, a Índia
Scouts Ladakh
O Exército indiano tem a divisão de montanha mais competente do mundo, treinada para guerra em alta altitude: os Scouts Ladakh (ou Batedores Ladakh), considerada a tropa de elite da Índia. Inclusive, um especialista militar chinês Huang Guozhi reconheceu e acrescentou que o treinamento de sobrevivência e bélico no montanhismo Scouts Ladakh é uma “habilidade essencial” para cada soldado indiano implantado nas montanhas. Os rivais da Tropa de Montanha mais especializada do Mundo são os chineses.
Atualmente essa tropa possui aproximadamente quase 200.000 soldados em 12 divisões. A divisão de montanha indiana é também o maior batalhão de alta altitude do mundo.
Conclusão
Devido à sua formação particular, montanhas em todo o mundo têm sido o centro de conflitos e grandes eventos históricos relacionados com guerras e massacres. No entanto, mesmo esses fatos sangrentos podem ser lidos como um poderoso impacto das montanhas e o papel vital que elas desempenharam e ainda desempenham na história da humanidade.
Para frente e para o alto;
Montanha Brasil.