Se você chegou a essa primeira frase, meu título se converte numa mentira. Porém, mantenho a afirmação. Vejam bem, não se trata de uma indagação retórica, um manejo das palavras para se chegar a um final apoteótico. Tampouco, é uma exclamação. Isso seria demais. Não é uma frase que nasce do espanto. Nem do assombro. Muito menos, da indignação. Há tanto para se objetar, ultimamente. Melhor é nos atermos ao que, ao menos, parece ter solução. A leitura e os não leitores é fardo velho e batido, lenga lenga inglória que cansa quem ouve e retorce os nervos de quem se propõe a argumentar.
Toda vez que me deparo com a frase “o brasileiro não lê” tenho calafrios. É certo como dois e dois são quatro que, em seguida ao enunciado, começam a se apontar os dedos. A culpa é dos pais. Não, é da escola. Das professoras (coitadas, mais essa). Do governo. Do preço dos livros. De nosso passado escravagista. De nosso futuro insólito. Adianto, não faço a mínima ideia. Não tenho pretensões de elucidar nada. Se tivesse essa ilusão, acompanhada de delírios de grandeza, lançaria minha candidatura nas próximas eleições. Prometeria melhoras aqui e acolá. Não é do meu feitio. O realismo brasileiro não nos brinda nem com a possibilidade de ser mágico, como o colombiano, mas quem sabe do que eu estou falando?
As vezes, nos falta um ponto final. Um derradeiro confronto com o fato consumado. Nada de catarse. Danem-se as redenções. A solidão do não leitor é reconfortante e quentinha. Quem sabe, sejam os escritores o verdadeiro incômodo. Puxadores de conversa avulsa e não solicitada. Inoportunos. Inconvenientes. Gente sem ter algo melhor para fazer.
Já já, termina. Como adverti, sem respostas. Sem reflexões. E, acima de tudo, sem lançar sobre quaisquer ombros o peso da “formação de uma sociedade que lê.” Não terei esse descaramento. Um crítico literário que gosto muito (não vou me incomodar em procurar seu nome completo, afinal, retorne ao título) tem uma frase fatal: “qualquer iniciativa empregada para formação de leitores é tempo perdido que deveria ser empregado lendo.” O danado me convence toda santa vez. Ainda bem que já terminei esse artigo.