Imagino que esse título que encabeça o meu texto de hoje já tenha sido lido e visto por várias pessoas, pois se trata do título da letra de uma música interpretada maravilhosamente bem pela dupla Toquinho e Vinícius de Morais.

Essa música é de autoria de Antonio Pecci e Lupicínio Rodrigues. Gosto sempre de citar as fontes e referências bibliográficas, porque cumpre a nós que escrevemos nunca nos apropriarmos de títulos, textos, frases, pensamentos e outros escritos, e, sim, mencionar as fontes, uma vez que não é de nossa propriedade.

Certa vez, conversando com um cidadão, ele me disse: “rapaz, se preocupe não.” “Tudo que cai na internet é de todo mundo”, discordei no ato. No final, ainda me chamou de bobo e ingênuo, frisando que a pessoa assina embaixo e nunca ninguém descobre. Expliquei várias vezes sobre Direitos Autorais. Mas não adiantou, pior coisa é você perder tempo com quem finge não entender o que você está explicando. Lidar com pessoa recalcitrante é terrível.

Mais uma vez, lembramo-nos dos valores passados pelos nossos pais e, felizmente, nós os agregamos. O mais importante é estar com a consciência tranquila e você se sentir bem e capaz, vendo que você tem condições de criar algo que lhe seja prazeroso e poder exercitar o dom que Deus lhe deu, desde que esse dom contribua para o bem, seja usado para o bem. É sobretudo também uma questão de caráter.

Contudo, voltemos ao título Escravo da alegria, o qual tem sido o norte para a produção desse texto. Quero destacar, inicialmente, a palavra escravo. Sempre que ouvimos ou lemos esta palavra, ela nos remete a situações negativas, ultrajantes, humilhantes, e a exploração e exigências a seres humanos além de suas forças.

Segundo Oxford Languages, escravo é considerado como “que ou aquele, privado de liberdade, submetido à vontade de um senhor, a quem pertence como propriedade.”

Já o Michaelis define como “que ou aquele que se encontra dominado pela vontade de outrem, por uma paixão, por um vício ou por outra força moral incontrolável.”

Imaginemos nós sermos escravos da alegria?

A Alegria sendo a nossa dona, estarmos submetidos a ela. Quanta responsabilidade nas nossas costas! Hein?!

Então, a Alegria enumerando várias tarefas para nós realizarmos. Por exemplo, você, meu escravo, leve a alegria aos hospitais, visitando os doentes e fazendo-os ficar descontraídos, animados por sua presença ali,

Passe pelos pontos dos ônibus e alegre àqueles que estão com o semblante entristecido por mais um dia de trabalho cansativo e que saíram de casa desde a madrugada e só agora retornam.

Encoraje o pai de família que, preocupado, ver chegar o final do mês e contas estão aí para pagar.

Esteja com as pessoas que perderam algo valioso em sua vida, até mesmo um ente querido, proporcione estes momentos de alegria a eles, não invalidando seus sentimentos.

Eu nunca tive a oportunidade de analisar literariamente a letra dessa música, pude perceber como os compositores são verdadeiros poetas. Transcendental!

Logo na primeira estrofe, o eu poético mostra a sua preocupação com a chegada da Alegria e esta causa mudanças comportamentais nele. Ele está convencido de que tem de servi-la mesmo que tenha batido uma insegurança. Está motivado a ser seu escravo. Quer dormir e despertar e continuar servindo a ela. Porque ela representa a luz, o brilho, o entusiasmo e fogo que o impulsiona a ações. Parece uma contradição quando diz que ela o fará sofrer. Nas enumerações que fiz acima, o Escravo da Alegria sofre porque, a partir de sua própria experiência, ele vai até as pessoas angustiadas, entristecidas, amarguradas, desanimadas, infelizes. E, desta forma, ele como ser humano e tendo empatia “fatalmente irá sofrer.”

E ainda questiona: “se o amor é fantasia” /” ele está em pleno carnaval”. A fantasia esconde uma realidade. Vive a alegria, serve a ela com prazer; tem consciência de que vai passar, vai acabar.

Na concepção de Michaelis: “o escravo pode ser dominado também por uma paixão, por um vício, ou por outra força moral incontrolável.”

De vez em quando, ouvimos alguém dizer: “meu amigo é escravo do futebol, todo final de semana, sempre tem que arrumar um jeito e participar de um jogo, fala se não participar, ele morre. Que exagero!

Ouço também sempre alguém falando que é escravo do cigarro e de bebidas alcoólicas.

E o mais triste ainda é saber que algumas pessoas são escravas da mentira, da fofoca, da maledicência.

Todas as situações que mencionei acima podem até proporcionar momentos de prazer e de alegria, entretanto revelam um comportamento desequilibrado, negativo que precisa de cuidados especiais e de tratamento.

Enfim, a palavra escravo é muito usada nas várias formas de Arte, tais como na música, na Literatura, no cinema, no teatro.

Porém, sendo escravo no trabalho, aí já é outra situação. Remonta ao passado da nossa História e também ao presente, à atual exploração e privação de algumas pessoas no seu contexto profissional.

Na sexta estrofe que faz parte do refrão, os poetas ressaltam o seguinte:

“Vou dormir querendo acordar
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar
Com esse fogo que faz arder
Me dá medo e vem me encorajar
Fatalmente me fará sofrer.”

O eu poético está ciente da sua responsabilidade, sabe da força que emana da Alegria e que o leva a ter tais atitudes. Só que, numa análise mais profunda, ele sabe que vai sofrer, porque ela, a Alegria, pode ter contribuído para ele viver aqueles momentos que também passam.

Afinal, está se aproximando o Carnaval. O eu poético está em “pleno carnaval”. Que não somente ele aproveite esse momento para uma reflexão sobre essa festa, como todos nós devemos analisar todos os contextos em que estamos inseridos e deixo para a prática sugestiva o título do livro do escritor norte-americano Hugh Prather: “Não leve a vida tão a sério.”