O assassinato da vendedora Roseli Valiati Farias, a 79ª vítima de feminicídio apenas esse ano no Espírito Santo, e a quarta da Região Sul em um mês das 11 totais, chocou os moradores de Cachoeiro de Itapemirim.
Os amigos e familiares, e até desconhecidos abalados com a repercussão do caso, estranham o fato da mulher generosa, madura e antenada não ter percebido que o namorado era um homem perigoso. Por que ela não percebeu os riscos que corria?
Quem explica é a psicóloga Zenilda Leite Baptista, Especializada em Neuropsicologia e em Psicoterapia Corporal e Análise Bioenergética.
Ela diz que pessoas como Alexandre Vaz Nunes, acusado do assassinato são frias e muitas vezes narcisistas, egocêntricas, hedonistas (que vivem em busca do prazer), no entanto, extremamente sedutoras, persuasivas e manipuladoras.
A profissional ressalta que são “predadores sociais” que buscam informar-se muito bem sobre suas vítimas, sabendo do que elas gostam e precisam, momento em que aparecem como a solução da vida da vítima.
“A vítima é muito bem tratada e pensa que teve muita sorte em ter conhecido alguém assim, tão atencioso e gentil”, exemplifica.
A psicóloga destaca que outra característica destes indivíduos é que são indiferentes, insensíveis, despidos de “consciência genuína”, ou seja, de capacidade de amar, de respeitar o outro, de manifestar emoções positivas (salvo quando encenam), de emocionar-se com o outro, de serem compassivos.
Zenilda Baptista faz questão de ressaltar, contudo, que não tem elementos suficientes para análise do assassino, mas que em termos gerais, ele pode estar dentro dos critérios diagnósticos de Transtornos de Personalidade, Grupo B e ligado ao espectro de transtornos de conduta “externalizantes”, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
A característica predominante destas pessoas, e que a psicóloga faz questão de destacar, é que são inteligentes, envolventes, charmosas, bons de papo e dominam muitos assuntos com grande eloquência e potencial de convencimento, dada a sua alta capacidade de persuasiva.
Ela alerta que são bons amigos, amantes e ótimos em muitas áreas de convívio e interação, e que exatamente por isto são denominados “predadores sociais”, que visam sempre o benefício próprio.
“Eles querem a autopromoção e buscam objetivamente o poder e o status, e ilicitamente almejam lucros financeiros e contas bancárias robustas e prestígio social, não importando como atingirão seu objetivo”, esclarece.
Mas não é apenas isto. Zenilda Baptista adverte que a lista é muito maior. “São em sua grande maioria mentirosos contumazes e os reconhecemos sempre, mas sem maiores suspeitas, nos chefes tiranos e desrespeitosos, nos pais e mães abusivos e tóxicos, nos políticos amorais e antiéticos, nos filhos desrespeitosos, opositores, desafiadores e que cometem pequenos delitos”.
E é exatamente aí que mora o perigo, segundo a psicóloga, porque são pessoas com quem convivemos e para quem abrimos a porta de nossas casas.
“O que mais assusta e nos impacta é que a grande maioria não está atrás das grades, aliás, nem mesmo chegaram a entrar numa delegacia e quando acontece conseguem reverter a situação a seu favor”.
Zenilda Baptista Leite enfatiza que a grande maioria está do lado de fora das grades, transitando em nossa cidade, no nosso bairro, em nossa rua, em nossa família, em nossa cama, e que convivemos diariamente com eles.
Tudo isso exatamente porque são ‘camaleões sociais’ e enganam, encenam, representam, manipulam com grande potencial de convencimento e estão travestidos de pessoas humanas, religiosas, bons amigos.
“São homens e mulheres de bom nível social, de qualquer raça ou credo, e estão misturados aos mais diversos grupos sociais. Eles trabalham, estudam, namoram, casam-se, tem filhos, são pais e mães, filhos(as), profissionais, políticos e empresários(as) respeitáveis e assumem um viés performático de pessoas do bem”.
E Zenilda faz mais um alerta: “nos equivocamos quando pensamos que essas pessoas são grosseiras, más e têm pinta de assassino e desvios comportamentais. Elas não são assim. E exatamente por isso não é tão fácil reconhecer uma personalidade dessas”, conclui.
SAIBA MAIS
– Segundo as estatísticas, o Transtorno de Personalidade Antissocial afeta de 1 a 3,6% da população, se arredondarmos teremos cerca de 3% da população, 3 pessoas em cada 100;
– No Brasil hoje somos, de acordo com o IBGE na atualização de 2021, 212 milhões de habitantes. Isto quer dizer que cerca de 6.360.000 pessoas apresentam o transtorno;
– Numa cidade como Cachoeiro, com cerca de 220 mil habitantes, teremos uma incidência de 6.600 pessoas, se considerarmos um bairro com cerca de 4.000 teremos 120 pessoas que vivem ao nosso lado com o transtorno;
– O Transtorno de Personalidade Antissocial é mais comum em homens, numa proporção de de seis homens para uma mulher, e há um forte componente hereditário.
Saiba mais sobre o caso
https://diaadiaes.com.br/imagens-de-cameras-teriam-levado-policia-ao-acusado-de-matar-roseli/